Bolinhas de papel...Bolinhas de Papel
Bolinhas de papel... Bolinhas de Papel.
“Em algum lugar da praia de Itapoã”...
_ Cri meu caro amigo! Há quanto tempo cara! Temos sentido a sua falta. Sumido, hein? Aonde tens andado?
_ Hiii! Menos Chico, menos! Estive por aí. E você hein? Parece mais jovem. Andas se nutrindo destas dietas “naturebas”, hoje na moda?
Sumi sim cara. Um sumiço forçado; fui premiado: um “ser alado”, de cepa nobre, mais conhecido como: Aedes Aegypti, mui amigo, sorrateiramente e traiçoeiramente me “beijou” – era uma fêmea -, um ósculo vampiresco! Resultado: Dengue! Dengue, a nossa doença. Antes só atingia os “pobres”... Gente das periferias, em bairros pobres – sem esgotos, sem água encanada, sem infra-estrutura. Esgotos à céu aberto; em alagados, perto dos lixões... etc. ... Conversa!
E por que eu? Logo eu, fui ser a exceção? Eu moro aqui...
Entrei nessa... “paracetamol” - comprimidos de 750mg... Dizem: é tiro e queda!... Realmente queda: dezesseis dias internados num Hospital. Hospital Público. Mesmo com um caríssimo plano de saúde!...
Hospital Público com quartos reservados para os Planos de Saúde Privados, pode?
Mas vamos que vamos! Público x Privado x SUS...
O negócio é que eu ainda estou convalescendo. Rapaz! Que coisa mais desconfortável essa tal de dengue... Doença de pobre uma ova!
De um fôlego só e inspirado continuou Cri: _ A gente assiste à toda hora, pelas TVs, rádios, enfim na mídia, campanhas com recomendações mil , de como se prevenir. Mas parece não encontrar eco em muitas pessoas, notadamente na classe alta, nos bairros chiques, nos “riquinhos emergentes”, que dificultam o acesso dos agentes de saúde pública às suas residências, aos condomínios de luxo, que não acreditam nas campanhas de saúde pública – (Governo) . “Ah, isso é negócio para eles faturarem “algum”, para as suas campanhas; mais uma torneira para “vazar” dinheiro público e...por ai vão”.
Agora a “doença de pobre” também atinge os “ricos”; proprietários dos luxuosos apartamentos e dos casarões com piscinas... Eta Brasil.
_ Mas vamos esquecer a dengue, Chico. Sai mais espairecer, aproveitar este sol “fraco” de outono, que, aliás, é muito agradável. Também aproveitar e “clarear” as vistas, com esta visão - cheia de pecado! Destas lindas morenas (aeronaves) cheias de curvas e requebrados cheios de graça, que planam (andam) no nosso “aeroporto” - calçadão da orla... Oh, Praia de Itapoã. Mas diga ai, Chico! O que você me conta de novo? E o Nandú?
_ Muito pouco... Aliá, segundo sei, ele anda envolvido com uns Contos; ele anda escrevendo umas historinhas. Da última vez que eu o vi, para não passar em branco, ele contou-me uma pérola... Só mesmo o Nandú!
_ Então manda ver, cara. Qual é a última?
_ Se você não está com pressa, Cri... _ Não Chico, tenho toda a manhã disponível. Vamos nos sentar ali naquele banco à sombra daquela castanheira mais próxima da areia da praia.
-Tá bem. Então vamos...
“ Nandú... _ Sabe Chico, aconteceu uma coisinha comigo hoje muito interessante, que me levou a refletir sobre a “janela que o outro” nela se debruça, d’onde vê , enxerga o mundo à sua volta.
Concluí a partir dessa experiência singela e inusitada, que cada um de nós, tem uma visão, enxerga valores e conceitos, segundo suas experiências de vida. Escuta essa: Estava eu no “ponto” de ônibus – aqui em Itapoã -,aguardando um, já há algum tempo que fosse para o centro de Vila Velha. Bem, na verdade não era bem um Ponto de Ônibus. É na calçada, protegido pela marquise de prédio, em frente do Boteco do Paraná – famoso pelos seus pastéis caipira ( tradicional ) -, d’onde se ouvia aos berros, vários bordões filosóficos, emitidos por assíduos freqüentadores. Mas lá estava eu em pé, acabara de almoçar e estava me dirigindo para o trabalho. Na boca uma deliciosa bala doce de côco queimado e nas mãos o papel que a envolvia como embalagem, amassada em forma e uma bolinha, uma pequena bolinha de papel.
O ônibus estava demorando... Ufa! Como demora esses ônibus!
Eis que de repente aparece, puxado por um cidadão catador de papel/papelão, um carrinho... não, um carrão! Cheio, transbordando de toda sorte de “descartáveis” – além de papelão, garrafas de plástico/vidro, madeiras, etc. . Ele estacionou o carrinho exatamente na minha frente, e foi catar o seu precioso material numa lixeira próxima.
Eu ali com uma bolinha de papel nas mãos, já enjoado de amassá-la, inocentemente fui até ao carrinho e a coloquei no dito. Era papel mesmo, então... No que, ao perceber o meu gesto, o cidadão catador de papel, gritou comigo: “Ei! O que é isso? O senhor pensa que o meu carrinho é alguma lixeira? Quem o autorizou a jogar lixo no meu carrinho?”.
_ Cara! Tomei um baita susto! Outras pessoas que também estavam aguardando o ônibus assustaram-se também. Todos ficaram mudos. Olharam para mim, esperando qual seria a minha reação. Então, eu meio sem graça, fui humildemente até ao carrinho, mexi no lixo, procurei pela bolinha de papel que jogara entre tantos papeis, papelões, e em encontrando-a, peguei-a, mostrei-a ao cidadão catador de papeis, e disse-lhe: “Desculpe-me! Desculpa. Olhe-a aqui... Desculpa... A “bolinha”?... Guardei-a disfarçadamente no bolso...”
Todas a testemunhas do ocorrido, esperavam, acho eu,uma reação diferente da minha parte. Mas veja: Eu agi erradamente. Intimamente e preconceituosamente eu agi como se o carrinho do catador de papeis, não tivesse nenhum valor... Fosse lixo! Mas pela “janela dele”, aquele era o seu maior bem que ele possuía, seu carro zero quilômetro, seu ganha pão... E eu não tinha o direito de invadir sua propriedade. De jogar qualquer coisa no seu carrinho...”
_ “ Mas Chico”! Continuou Nandú com sua história...
“A propósito de “Bolinha de Papel”... Lembro-me de uma que vai ficar na história... Àquela, que por magia de edição midiática, transformou- se num “tijolaço”... Era então a campanha eleitoral de 2010... Uma caminhada de corpo-a-corpo do então eterno e principal candidato das oposições (PSDB)... De repente foi lançada no “carrinho do catador de papel”, não! No carrinho, não! Na cabeça dolicocéfala, calva do cidadão-candidato à Presidência da República uma “bolinha de papel” feita de fita crepe. No inicio a “vitima”, nada sentiu. Aquilo não o incomodara. Mas... Súbito! O “Catador” de papel. Ops! O catador de votos! Não, o candidato resolve transformar o episódio em “atentado”, com objetivos eleitoreiros. Iluminado vê a cena, enxerga na “bolinha” um mote político
Monta-se a farsa... Uma Van é providenciada... A vítima, com “suspeita” de traumatismo craniano é levada às pressas a um Hospital. Faz-se uma tomografia. Diagnóstico: Formara do lado direito do crânio da vitima um edema. Detalhe: Hospital Privado – Atendimento Particular – padrão primeiro mundo! -, zona sul da cidade do Rio de Janeiro.
Mas não foi só uma “bolinha”? E ele não foi atingido no lado esquerdo da cabeça?... Não nada disso: Foi uma pedra...
Uma “bolinha de papel”... Nenhum dano físico... Atendimento num hospital particular... Por que não um Hospital Público, do SUS ?
Talvez o “mote” político tivesse maior impacto. Super congestionamento; doentes pelos corredores deitados sobre colchões; ausência de profissionais da área de saúde... Um caos no atendimento. Isto sim um fato político importante... Mas... Um Hospital Particular?...
No caso do Ex-Presidente Lula... Diagnóstico: câncer na laringe! Não um traumatismo craniano provocado por uma “bolinha de papel”... Para ele – olha só o preconceito!-, por que não foi procurar atendimento/tratamento num Hospital do SUS?”
Oh, mídia, vamos diga: “Desculpe-me. Desculpa. Olha aqui, desculpa.”
_ Mas Chico, diga-me: Você entendeu as historinhas do Nandú?
_ Acho que sim, Cri.
10/12/2011