POESIA E SENSIBILIDADE. MÉTRICA. CUPIDO.
A poesia não existe sem sensibilidade, e isso ninguém pode negar, decorre da obviedade unânime. A roupa da poesia é diferente, é como o amor. A sensibilidade é impositiva, mas a roupagem tem variados estilos. Mas existem requisitos que devem obter preservação. Como o amor que inexiste sem sentimento.
A poesia clássica é vinculada à metrificação. A poesia moderna, também conhecida como branca ou livre, dispensa rima, mas precisa ser cadenciada e rítmica. É curricular.
Cada um coloca sua expressão exteriorizada como melhor lhe aprouver. A expressão é livre, faculdade libertária do homem, ser sentimento puro que navega nas palavras, se recepcionado por algum ou alguns, melhor.
Como dizia o notável Umberto Ecco, se uma pessoa ler o que escrevo, fico feliz.
Quem escreve textos poéticos, quer flechar distâncias, como fez Cupido, enganosamente conhecido, já que não quis unir, mas separar Apolo de Dafne.
Se não observarmos o mínimo, ocorrerá como as flechas de Cupido.
Quem monta o vento para ir longe, não pode acertar com seta de chumbo uma Dafne amada, mas com seta de ponta de ouro o objetivo como alvejado Apolo.
O menino-mestre, mestre da malícia, tão pouco conhecido, castigou o grande Apolo, também conhecido como Zeus em grego, o pai dos deuses.
Apolo, orgulhoso pela vitória contra a serpente Píton, ridicularizou Cupido e seu arco e flecha.
Advertiu Cupido a soberba de Apolo em achar que era o poderoso guerreiro capaz de manejar setas, exclusivamente, dizendo: suas setas podem ferir, mas as minhas podem ferir-te.
Em seguida Cupido atirou uma seta para atrair o amor, outra para afastá-lo, a primeira de ouro, a segunda de chumbo.
Atirou-as certeiramente, atingindo Apolo no coração com a de ouro e ferindo a ninfa Dafne com a de chumbo.
Tomado de intenso amor por Dafne, após ferido no coração, Apolo buscou loucamente a amada que sentia horror a ideia de amar depois de acertada, e pediu a seu pai, o deus Peneu, que lhe pedia sucessores e netos, que lhe desse a graça de nunca casar. O pai lhe concedeu o pedido.
Correndo nos campos atrás de Dafne, Apolo clamava, “sou o deus da música e da lira, minhas setas voam certeiras para o alvo, sou o deus da medicina e conheço a virtude de todas as plantas medicinais. Ah! Sofro de uma enfermidade que bálsamo nenhum pode curar!”
A ninfa continuava sua fuga, o vento agitando-lhe as vestes e os cabelos, lindamente, o deus Apolo, desesperado, encurtava a distância da ninfa quando quase a alcançá-la ela implorou ao pai ajuda: “Peneu, abre a terra para envolver-me ou muda minhas formas que me têm sido fatais”.
Pronunciadas essas palavras, Apolo já junto a Dafne, ela sente um leve torpor, seu peito começa a virar uma leve casca, seus cabelos mudam-se em folhas, seus braços em galhos, os pés cravam-se no chão, como raízes, seu rosto configura a parte mais alta do arbusto.
Apolo abraçou-se à arvore, ardentemente beijou seus ramos e disse, “já que não será minha esposa, serás minha planta preferida”.
O amor em geral dispensa regras, e renega comportamentos, como a poesia que nasce do verdadeiro sentimento.