A VIAGEM
Conhecer o Rio de Janeiro? Meu sonho de consumo! Já conhecia três países diferentes e não havia pisado na cidade maravilhosa...Por toda a minha vida, só conhecia os lugares que meu irmão me levava. E apesar de muito pedir, ele nunca tinha me levado.
Dezembro 2009, finda o curso na faculdade, os preparativos para a festa de formatura já estavam providenciados. Neste ano meu irmão não vinha para o natal, (trabalhava fora do pais) trocaria as ferias para março, data em que se daria minha colação de grau.
Bem dizem que cabeça vazia é morada do diabo, e em uma certa manhã, estou tranquilamente em casa quando o telefone toca e uma colega de faculdade feliz da vida diz.
- Amiga, vamos passar um final de semana no Rio?
Meu coração palpitou, fiquei sem ar, nem sabia o que responder. E depois de uma boa respirada, perguntei:
- Rio de janeiro? Como?
- Tenho uma tia que mora lá, compramos a passagem no cartão e nos hospedamos na casa dela.
Depois de pedir um tempinho para pensar, desliguei e fiquei a martelar uma maneira de fazer essa viagem sem meu irmão saber. Minha irmã era fácil de convencer a ficar calada, pois eu tinha meus métodos de chantagem. Já nossa secretaria... Era de uma extrema fidelidade para com o meu irmão, se soubesse da viagem, fatralmente contaria e colocaria tudo a perder!
E por estas e outras eu pensei e pensei, chegando a conclusão de que essa seria uma oportunidade única e eu não podia perder. Afinal, seria apenas um final de semana...
O mais difícil seria comprar as passagens, não poderia nem sonhar em usar o cartão de credito, pois eu era dependente no cartão de meu irmão e com certeza ele descobriria minha façanha.
Depois de contar cada centavo economizado, ainda pedi um pouco emprestado a minha irmã, e por fim consegui o suficiente para a passagem e ainda sobraria uns trocados para gastar na cidade maravilhosa. Convencer a secretaria foi quase impossível, terminei dizendo que se ela contasse eu iria de qualquer jeito, e na pior das hipóteses, ele cancelaria minha festa de formatura.
Ela relutou um bocado, mas finalmente concordou em não ligar avisando, mais se ele ligasse, não garantia mentir.
Acertos feitos, passagens compradas e lá vamos nós, eu, Aline e Mariana, uma amiga da Aline que resolveu de ultima hora nos acompanhar.
A viagem foi tranquila,voamos a noite, pois era mais barato. Chegamos ao aeroporto Santos Dumont as 4hs da manhã, três caipiras sem saber para que lado andava na cidade grande...
Dinheiro para taxi era uma realidade que não existia, tínhamos que esperar o dia clarear para com o endereço na mão, sair perguntando como pegaríamos um ônibus para o bairro catumbi. E enquanto esperávamos, resolvemos tomar um cafezinho. (nosso primeiro erro) descobrimos de forma cruel o que era cidade grande...
Enquanto tomávamos nosso café encostadas no balcão da cafeteria, nos descuidamos das malas e quando viramos a mala da Aline tinha sumido!
Fizemos o maior escândalo enquanto Aline chorava... Mas por fim, tivemos que nos conformar e ficar atenta com as outras malas.
Ficava nos perguntando se era tão obvio que não conhecíamos a cidade. Como chorar por leite derramado não adianta, fomos até a administração e prestamos uma queixa e depois da garantia que fariam o possível, contamos nossas economias e pegamos um taxi mesmo sabendo que aquele dinheiro faria uma falta tremenda, mas não tínhamos mais condição psicológica de sair a procura de um ônibus.
Chegando no endereço que nos hospedaria, mais uma decepção! Um apartamento minúsculo, abafado e cheio de móveis antigo. Para nos receber tinha a tia da Aline, uma senhora de meia idade, mais o marido com algumas deficiência por conta de uma AVC. A única filha do casal estava trabalhando, mais ai tudo certo, nos ajeitamos as três em um só quarto. Ar condicionado nem em sonho, vimos em cima de um criado mudo um único ventilador, do qual sem que minhas amigas percebessem eu o adotei na hora, de certo aquele ventilador seria meu único luxo.
Apesar do transtorno no aeroporto, estávamos resolvidas a esquecer o incidente, para isso fomos abrir as malas para ver o que tínhamos e que poderia ser dividido com Aline. E apesar de muito cedo, o calor já era de matar, para amenizar resolvi abrir uma estreita janela que tinha no quarto... Mais uma grande surpresa, nosso quarto dava vista para o cemitério CATUMBI!
Que horror! As meninas se benzeram considerando aquilo um mal presságio, eu me limitei a achar que essa viagem não tinha sido uma boa ideia, mais nada podíamos fazer, na pior das hipóteses era procurar um hotel e passar o cartão, assumindo todos os riscos de enfrentar a ira do meu irmão.
Depois de ajeitarmos algumas roupas para Aline, fomos até a sala na esperança de tomar um café, para depois darmos uma volta, ao menos no quarteirão.
Depois de ficarmos conversando, ou melhor, ficarmos escutando a tia da Aline lamentar a precária saúde e perguntar pelos parentes nordestinos, vimos o tempo passar e nada de falar em café da manhã. De sorte não costumo comer pela manhã, mas um cafezinho cairia bem, cafezinho esse que não foi servido. Assim terminou nossa primeira manhã na cidade maravilhosa e tudo que tínhamos conhecido foi o aeroporto e um cemitério.
O almoço foi uma negação, de inicio pensei que a situação financeira deles exigia a mal qualidade dos alimentos, mas logo descobri que eles eram sovinas mesmo. Depois de ajudar com a louça, descemos com a promessa de que não nos afastaria muito. Foi quando aproveitamos para crucificar a Aline, que terminou nos confessando que só tinha visto essa velha tia quando criança em visita que ela fez a seu pai em Aracaju. A noite quando a prima de Aline chegou, animou um pouco, apesar de já estar com seu quase 40 anos, era animada e se mostrou muito satisfeita em conhecer a prima. E depois de uma minguada janta, ela nos levou de ônibus até a feira de São Cristovão, o que não foi muito animador.
As 11hs já estávamos de volta, gastamos mais tempo nos ônibus do que na feira propriamente dita. No sábado depois do café da manhã regado a pão com manteiga, Pela primeira vez em minha vida, senti fome e não via nada para comer. Fomos a praia de Botafogo, e na volta compramos um frango assado já prevendo que o almoço não seria nada nutritivo.
Acertamos em cheio, porque assim que entramos a senhora muito solicita já foi avisando a filha que não tinha passado muito bem e que não tinha ido na cozinha, gentilmente pediu que a filha preparasse uma salada para o almoço.
A noite de sábado caiu uma forte chuva e não saímos do apartamento. Quando amanheceu o domingo eu já estava louca para voltar pra minha casa de onde nunca devia ter fugir para conhecer o Rio de Janeiro!
Fomos até a praia da barra da tijuca só para conhecer, pois o tempo ainda estava fechado anunciando mais chuva, não demoramos e voltamos para arrumar nossas coisas para a feliz viajem de volta.
Meu sonho de conhecer o Rio de Janeiro foi uma grande decepção, nada conhecemos alem de duas praias (praias é o que mais tenho em minha cidade) e ainda por cima passei fome. Antes de embarcar no aeroporto do Rio, liguei para minha secretaria e pedi:
- Sandra estou saindo do Rio e quando chegar em casa quero toda a família “ADA” me esperando.
Sem entender ela perguntou:
- Ou menina quem diabos é essa família “ADA”?
- RABADA, FEIJOADA, QUIABADA, RABANADA, GOIABADA, MARMELADA, e tudo mais que você conseguir reunir!
Dando risada ela desligou, não antes de me avisar que meu irmão tinha ligado e ela não teve como esconder que eu tinha viajado sem a ordem dele.
Toda bronca por telefone só dura até a ligação cai, e assim foi quando por fim meu irmão consegui falar comigo. Depois de gritar, brigar, e fazer promessas de que depois da colação de grau eu não participaria da festa com a turma, a ligação caiu e sempre que ele ligava eu estava indisposta.
No ano seguinte tive minha linda festa de formatura e de presente ele me proporcionou uma verdadeira viagem ao Rio de Janeiro, onde eu pude conhecer todos os pontos turísticos da cidade com direito até a hotel cinco estrelas.
Vai entender...