Amor Selvagem
Tivemos um dia difícil na lida da fazenda, crianças, cozinha, comida para os animais, e tantas outras coisas do trabalho doméstico. Senti por mais de uma vez o olhar fixo do meu companheiro...
Pensei... Não pode ser o que estou pensando... Estou muito desarrumada, cabelo preso arrepiado... Não, não poder ser, nem vou parar e dar uma arrumada... Continuei no apuro daquele dia... Não demorou ele me chamou para ajudá-lo com uma estante que ele teimava em tirar do lugar...
Chamou dois peões e me pôs do seu lado, a roçar de leve em mim, me olhar e sorrir... Pensei acho melhor eu ir dar uma arrumada, ele tá de ouriço pro meu lado... Dei uma saída rápida, ele chamou de novo...
Agora queria ir comigo procurar um galo que não se recolhera, pediu pra levar uma cesta para o caso de encontrarmos alguns ovos no mato. Levei... Saímos a procurar...
O sol baixava rapidinho num ocaso vermelhinho que prateava as águas, frisadas do riacho, descendo nas curvas do gramado das pastagens. Se fosse na praia do Jacaré, lá em João Pessoa (PB), não teria dado tempo do trompetista tocar o Bolero de Ravel...*
Escureceu rápido, mas o luar daquele sertão não deixou por menos, e sob aquela luz da lua “cupideira” continuamos a aquela busca... Nada de galo, mas achamos ovos... Não soltei a tal cesta, mesmo quando ele agitado sem esconder suas intenções já me segurava pela mão me mostrando o melhor caminho...
De repente não dava para caminhar, era preciso pular, onde o riacho engrossava, veio a hora do abraço... Ele me agarrou forte e muitos beijos rolaram... Pulamos para o outro lado, as roupas molhadas, nada de frio, só calor, muito calor... Do lugar já não saíamos, nem era possível em meio a tantos aconchegos...
Ele aflito olhava em volta, querendo arrumar um lugar para acomodarmos as nossas intenções, naquele momento já frenéticas, de nos amar... Um cocho estava perto...Muito perto... Só um passo, já estávamos dentro...
Um leito! Um provimento dos deuses... Cheirinho de grama molhada misturada com nossos cheiros aumentava nosso ardor, nosso desejo... E nos amamos a luz do luar...Passamos aquela noite entre aqueles animais... Um ventinho gostoso, o calor daquele abraço, enrolados, nos aquecendo mutuamente...
Acordamos pela manhã com o tal galo, que tanto procuramos, cantando perto da gente, e a cesta de ovos... Quebrados... Eu me arrumando disfarçando, e ele falando com os empregados sobre os serviços do novo dia... Corri para casa, passei um cafezinho, levei no curral para ele que recebeu com um sorriso... Ah! Um sorriso daquele não vai dar pra esquecer...
Ibernise.
Indiara (Goiás/Brasil), 04MAR2007.
_____________________
* Na Praia do Jacaré em João Pessoa (Paraíba/Brasil), tem um ponto turístico onde todas as tardes ao pôr do sol, um trompetista toca ao vivo o Bolero de Ravel. Ele inicia num ponto do ocaso, de modo que ao terminar o sol baixou completamente.
Direitos autorais reservados/Lei n. 9.610 de 19.02.1998.
Tivemos um dia difícil na lida da fazenda, crianças, cozinha, comida para os animais, e tantas outras coisas do trabalho doméstico. Senti por mais de uma vez o olhar fixo do meu companheiro...
Pensei... Não pode ser o que estou pensando... Estou muito desarrumada, cabelo preso arrepiado... Não, não poder ser, nem vou parar e dar uma arrumada... Continuei no apuro daquele dia... Não demorou ele me chamou para ajudá-lo com uma estante que ele teimava em tirar do lugar...
Chamou dois peões e me pôs do seu lado, a roçar de leve em mim, me olhar e sorrir... Pensei acho melhor eu ir dar uma arrumada, ele tá de ouriço pro meu lado... Dei uma saída rápida, ele chamou de novo...
Agora queria ir comigo procurar um galo que não se recolhera, pediu pra levar uma cesta para o caso de encontrarmos alguns ovos no mato. Levei... Saímos a procurar...
O sol baixava rapidinho num ocaso vermelhinho que prateava as águas, frisadas do riacho, descendo nas curvas do gramado das pastagens. Se fosse na praia do Jacaré, lá em João Pessoa (PB), não teria dado tempo do trompetista tocar o Bolero de Ravel...*
Escureceu rápido, mas o luar daquele sertão não deixou por menos, e sob aquela luz da lua “cupideira” continuamos a aquela busca... Nada de galo, mas achamos ovos... Não soltei a tal cesta, mesmo quando ele agitado sem esconder suas intenções já me segurava pela mão me mostrando o melhor caminho...
De repente não dava para caminhar, era preciso pular, onde o riacho engrossava, veio a hora do abraço... Ele me agarrou forte e muitos beijos rolaram... Pulamos para o outro lado, as roupas molhadas, nada de frio, só calor, muito calor... Do lugar já não saíamos, nem era possível em meio a tantos aconchegos...
Ele aflito olhava em volta, querendo arrumar um lugar para acomodarmos as nossas intenções, naquele momento já frenéticas, de nos amar... Um cocho estava perto...Muito perto... Só um passo, já estávamos dentro...
Um leito! Um provimento dos deuses... Cheirinho de grama molhada misturada com nossos cheiros aumentava nosso ardor, nosso desejo... E nos amamos a luz do luar...Passamos aquela noite entre aqueles animais... Um ventinho gostoso, o calor daquele abraço, enrolados, nos aquecendo mutuamente...
Acordamos pela manhã com o tal galo, que tanto procuramos, cantando perto da gente, e a cesta de ovos... Quebrados... Eu me arrumando disfarçando, e ele falando com os empregados sobre os serviços do novo dia... Corri para casa, passei um cafezinho, levei no curral para ele que recebeu com um sorriso... Ah! Um sorriso daquele não vai dar pra esquecer...
Ibernise.
Indiara (Goiás/Brasil), 04MAR2007.
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* Na Praia do Jacaré em João Pessoa (Paraíba/Brasil), tem um ponto turístico onde todas as tardes ao pôr do sol, um trompetista toca ao vivo o Bolero de Ravel. Ele inicia num ponto do ocaso, de modo que ao terminar o sol baixou completamente.
Direitos autorais reservados/Lei n. 9.610 de 19.02.1998.