Conversa no DP

        
 
— Quem disse que isso é certo?
— Eu estou dizendo.
—Mas com que autoridade?
— Não preciso disso.  Faço porque posso.
— Vai dar com os burros n’água...
— Vou nada.  Estou acostumado.
— E acaso viu o que a piranha falou?
— Ouvi sim.  Disse que entrega todo o mundo.
— Não tem medo?
— Cara, quem tiver medo neste ofício tá ferrado.
— Mas também não pode se expor, dar mole.
— Isso é regra.  Dar mole é morrer mais cedo.
— Esses caras têm provas contra você?
— Só o que a vadia disse, prova testemunhal, e de origem suspeita.
— Bateu muito no cara?
— Bati nada, não torturei, só dei uns tapas na cara do safado.
— E o corpo de delito acusa?
— Ele fez, mas não tem o resultado ainda.  Tapa não deixa marca, fica vermelho na hora e depois some.
— Então não vai acontecer nada.  Ele mereceu.
— Foi o que o doutor me disse.  Mas não gostou.
— Não gostou como, se ele dá bolacha também?
— Ele bate, mas só para desmoralizar.  O fraco dele é interrogar prisioneiro nu.
— Pelado de todo?
— Peladão.  O cara fica sem pai nem mãe, não sabe onde meter a cara.

São assim os dias e noites num distrito policial.  Quando não estão agindo nas ruas, ou interrogando prisioneiros, os policiais falam de futebol, encrencas com vagabundos e broncas familiares.  Nada mais.


Exercícios de diálogo rápido.  Uso do Word com travessão, evitando o deselegante hífen.

 
 
 
 
 
 
 
 
Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 26/11/2012
Reeditado em 26/11/2012
Código do texto: T4005557
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