Sobre a reeleição de Barack Obama.
É coisa de que não gostaria de falar. Não precisava. A mim, particularmente não ocorreria qualquer interesse saber ou acompanhar em minúcias todo o andamento do pleito. Impossível isso, já que a grande mídia desse “meu país” se envolve de forma tal, e durante semanas e mais semanas que antecedem o pleito, que a impressão que me ocorre é de que o resultado dessas eleições influenciarão diretamente nas relações entre brasileiros.
Houve um tempo em que a orientação política do mundo ocidental passava necessariamente pelo piscar de olhos que desciam do norte. Os efeitos da guerra fria ecoavam de forma contundente, sobretudo sobre a região da latino-américa, subserviente, submissa e impotente, incapaz de desobedecer.
Isso me leva ao meu quintal de infância. Uma vastidão imensurável, coberto de árvores frutíferas cujo domínio administrávamos da porta de nossa cozinha. Atentos, qualquer movimentação estranha suspeita nos levava a perceber que alguém estava invadindo o espaço e carregando nossas mangas. A vigilância se redobrava em ocasiões de frutificação. Contentávamos com a constatação de que os frutos se perdiam no chão, sem qualquer aproveitamento, mas não admitíamos que o vizinho do lado de lá do ribeirão o atravessasse para colher alguns deles. Que proveitos nos davam? Sequer dávamos conta de uma colheita extravagante, misturando diversas modalidades num mesmo recipiente entregues ao apodrecimento sobre a mesa, sem serventia alguma, pois era muita fruta pra poucas bocas.
Nesse andar da carruagem, chegamos a um determinado ponto da vida que percebemos que o quintal nem era tão grande assim que as frutas nele produzidas não eram as melhores do mundo e, teriam sido muito melhor aproveitadas se as tivéssemos dividido com nossos vizinhos e amigos.
Obama já não controla mais o quintal porque a visão de certos inquilinos da parte baixa do globo chegou a um estágio de crescimento semelhante ao que tivemos quando descobrimos a improcedência do principio que norteava a visão de meu quintal.
De um tempo em que se “falássemos” com dirigentes de países como Cuba, China, Rússia causava mal estar e gerava ameaças dos lideres do Norte, passamos a nos relacionar com esses povos, com uma visão divorciada de seus interesses, de seus embargos, principalmente, com uma perspectiva de que os povos são povos e não podem ser medidos pelo seu jeito de pensar politicamente, não se anulam pelo credo e não se impõem pela cor da pele.
Infelizmente, grande parte de nossa mídia ainda pensa com a visão retrógada do tempo das muitas mangas. Não perceberam que elas apodreceram, perdidas ao solo.
Num certo dia, desses em que o espasmo de inteligência supera o da mediocridade, o país do Norte elegeu um mulato para a presidência, saído de uma descendência completamente desconectada das origens do povo a que veio governar. Reeleito agora, causa o maior frisson em certas cabeças coroadas que lhe dedicaram espaços nunca imanáveis de se dedicar a um nacional.
A programação é interrompida e ao fundo os acordes do hino nacional da nação superior. É tétrico. Correspondentes são mobilizados nos quatro cantos do mundo para colher as impressões; comentaristas mudam a impostação da voz. Não há o que fazer. Infelizmente uma visão de subserviência ainda vive sobre ombros e cabeças e sobre esse embalo impactam a informação de nós, reles cidadãos sem discernimento.
Do outro lado da notícia, verificamos certo desdém com as coisas ditas por cá. Certo mulato, eleito e reeleito, responsável por avanços significativos, incluídos os de autoestima do povo, começa a sentir de perto o preço de ter contribuído para a supressão dessa subserviência. O vilipêndio, o desdém, o desrespeito e a tentativa de vulgarização são uma constante nesses mesmos espaços dedicados ao mulato da “raça superior”.
Não importa o que se tenha acrescido ao país. É preciso que retorne aos trilhos, à vala comum da dependência em todos os níveis e sentidos.
Mulatos são diferentes, pude perceber. Os de cá e os de lá.
Cresci naquele quintal onde as fronteiras se limitavam pelo prazer da ostentação de poder e domínio. Uma “invasão” de um vizinho em troca de uma fruta fadada ao apodrecimento em nada nos diminuiria, vejo, traria muito mais que um sentimento distante de vizinhança e de competição; traria por certo uma maior proximidade com possibilidades de conhecimentos e interação entre seres de uma mesma espécie.
Mas, como ocorre, os mulatos de cá não falam inglês, assim como os vizinhos do lado lá. Isso pesa; e como pesa!