INICIANDO NAS ARTES
O texto a seguir foi extraído de “Crônicas da Vida Inteira”, livro inédito sobre fatos da minha vida, adaptado para o Recanto das Letras.
INICIANDO NAS ARTES
Aprendi nas aulas de Física que nenhum movimento se faz sem que haja um impulso inicial e que uma força motriz o mantenha. Dizem também os psicólogos que, da mesma forma, a nossa mente precisa de um estímulo para despertar e desenvolver-se em determinada atividade.
Pensando nisso, hoje eu sei o que foi que me motivou para o desenho. Uma de minhas irmãs, a Maurília, guardava com zelo, escondidos entre seus pertences, um caderno de desenho de seu tempo de escola e uma caixa de lápis de cor já bastante gastos. Nesse caderno ela havia desenhado uma porção de motivos que eu admirava. A mana tinha jeito pra coisa. Foi pena ela não ter continuado.
Comecei copiando os desenhos da mana, depois passei a criar meus próprios motivos: bois, cachorros, porcos, galinhas, passarinhos, figuras humanas, principalmente de santos.
Pra isso, comecei, desde cedo e por iniciativa própria, a observar a natureza: o formato, as proporções, os mínimos detalhes dos corpos dos animais e das pessoas vistos de diversos ângulos, a deformação aparente das superfícies planas e curvas. Fui adquirindo, enfim, minha noção de perspectiva.
Por essa época foi contratado um artista de fora (diziam que era alemão) pra pintar o interior da antiga igreja matriz de Armazém. Pra mim aquilo era um prato-cheio. Todos os domingos eu ia à missa, mas em vez de prestar atenção à cerimônia, ficava a observar as figuras pintadas na semana anterior. Cada domingo havia figuras novas. Eu chegava em casa e as reproduzia nos meus papéis. Coitada da Maurília, que acabou ficando sem seus lápis de cor, pois eu gastei todos eles. Eu usava papéis de embrulho, tampas de caixetas... Não havia papel que chegasse. Eu rabiscava tudo, pois a situação financeira da família não me permitia ter cadernos de desenho.
Virou obsessão mesmo. Eu deixava qualquer outro brinquedo próprio da idade e me punha a desenhar.
Meu irmão José, o mais velho dos treze e já casado, foi o primeiro a notar meu progresso e a acreditar que eu levava jeito pro desenho e, numa de suas viagens a Tubarão, ele me levou de presente um caderno com motivos pra colorir, outro com folhas em branco, uma caixa de lápis de cor e um compasso. Que grata surpresa! Eu não lembro de outro presente que me tenha dado tamanha alegria. Não pelo valor, mas por perceber, pela primeira vez, que alguém valorizava o que eu fazia.
Foi na olaria do papai que eu fiz minhas primeiras experiências de modelagem em argila mole, e de escultura, usando pedaços secos de tijolos ou de telhas. Um dia cismei de modelar uma Santa Teresinha, copiando-a da estátua existente na capela. No começo papai brigou comigo, dizendo que eu estava era desperdiçando material. Mas depois que ele viu o resultado, admirou-se e até me mandava mostrar pras pessoas que chegavam lá em casa.