Meu alter ego no Facebook
Hoje recebi um convite de mim mesmo para entrar no facebook; como não recordo de ter enviado, estou com um dilema existencial, na tentativa de entender como isso se deu.
Bem, pode ser que exista alguém com exatamente meu nome, incluindo os nomes de família, todos; mas, pesquisei no Google, e ele não encontrou tal homônimo; pode ser que o face saiba coisas que o Google não sabe, vá saber!
Ou, eu quisesse enviar um convite para outro, e clicasse errado, mas, sequer tenho conta lá, e não poderia convidar ninguém, nem certo, nem errado;
Quem sabe, sou sonâmbulo e não sei; teria feito a coisa dormindo; mas, se nem acordado logro essa proeza, a hipótese não me convence; ademais, ainda que eu tivesse conseguido a façanha, por uma das possibilidades alistadas, ou, outra ignorada, resta uma questão de relevância maior: Como eu convidaria a mim mesmo para participar de algo que eu não gosto, não faço parte, não dou a mínima?
Lembrei umas frases que filosofam sobre esse drama existencial; “parei de fugir de mim mesmo, pois, onde eu ia, eu tava”; ou outra: “Briguei comigo mesmo, mandei-me ver se eu estava na esquina, e quando cheguei lá, não é que eu estava?”
Eu já tinha ouvido falar sobre a anulação do eu, nos meios filosóficos: “Se nos estados puramente emocionais da massa, o eu não sente a solidão, não é porque se comunique com um tu; mas, porque sua individualidade e consciência são anulados” ( Nicholas Berdiaef ).
Agora deparo com a duplicação do eu, o que torna até suspeito esse texto; pois, não sei sou eu que estou escrevendo o que penso, ou, o outro eu, estaria empurrando goela a baixo o que ele pensa.
Certo, o Freud falou da existência do alter ego, que, se fôssemos traduzir, seria, o outro eu; será que encontrei suas digitais finalmente?
Talvez, ao lançarmos nosso nome no universo virtual, estamos gestando nosso alter ego, que depois poderá se voltar contra nós...
Bem, caso seja isso, devo criticá-lo severamente; depois, quem sabe, converter em autocrítica.
Se “eu” sou assim, sou ditador, procuro me impor, sem respeito às escolhas alheias; se “eu” convido alguém para algo que sabidamente ele não gosta, devo ser meio sem noção; se eu faço isso para compartilhar fotos comigo mesmo, sou um tremendo narcisista; mas, se sou narcisista, porque me importaria com o deleite alheio? Ofereceria como bom a outrem, o que é bom a mim? Estaria convidando eu, para que “eu” me sentisse importante, valorizado?
De qualquer forma, “eu” sou bem humorado, pois, junto ao convite tinha uma foto engraçada de um elefante frente a um homem nu, que ao contemplar a “tromba” daquele, inquiriu: “Como você consegue respirar com isso?”
Ou, quiçá, “eu” sou maquiavélico, pois, estaria dizendo nas entrelinhas: Como você consegue viver sem facebook? Sempre me olhei no espelho sem me assustar muito, apesar da cara não ajudar, mas, confesso que estou com medo de mim, sou bem pior que pensava...