DIA DO MÚSICO
Prof. Antônio de Oliveira
aoliveira@caed.inf.br
Com certeza os músicos e os loucos por uma boa música ficarão emocionados ao partilhar um abraço no Dia do Músico, em 22 de novembro, dia de Santa Cecília. Uma boa música nos faz viajar na duração do nosso espírito, nos faz passar o tempo flanando. A música, como o livro, já era um meio de transporte virtual, muito antes do computador: transporta-nos a lugares distantes, reais ou imaginários, une gerações de falecidos, e de crianças, jovens e adultos, dependendo do gosto, do folclore mantido a duras penas, do tipo de cultura,
da forma de apreciar. Linguagem universal, pois nem há necessidade de traduzir as letras, para a música não existem barreiras. Alfândegas apenas para os produtos considerados piratas.
Existem conjuntos musicais que congregam avô e neto e, versáteis, vão desde um chorinho de Ernesto Nazareth à música erudita de Bach. Sob a forma de oração, cantamos um Gospel, um Réquiem, um Dies Irae, um Te-Deum, uma Ave-Maria, um canto gregoriano. Schola cantorum, orquestras, corais, bandas, conjuntos, teatro de ópera, música clássica, parafernália de instrumentos e aparelhagem de som, críticos de arte, indústria fonográfica, CDs, DVDs,
Verdade é que o conceito de boa música, sobretudo por se tratar de gosto,
é muito relativo. Mas vale essa relatividade, caso contrário não haveria diversidade, multiplicidade, versatilidade. Vai ser sempre assim: gostei,
não gostei. São raras as unanimidades. Outras vezes determinadas pessoas não apreciam um cantor ou um músico. No caso de Michael Jackson, sei de pessoas que não o apreciavam, muito menos se emocionaram com a montagem histérica de seu enterro, mas que mudaram de opinião depois de ver o filme póstumo Michael Jackson’s this is it. Mudar de opinião também pode ser positivo, sinal de que, mesmo com relutância, passamos a perceber nuances, matizes, performance, que até então não percebíamos. Imperceptível fissura num violino modifica-lhe a sonoridade e recicla eventuais conceitos.
A música nos faz viajar no tempo e, sob a forma de fundo musical bem escolhido, como em muitas trilhas sonoras, agrega sensibilidade seja para assistir a um filme ou a uma novela, fazer uma leitura ou praticar hidroginástica. Os hinos marciais, nem é bom pensar, incitam os soldados a guerrear.
Irmão desconhecendo irmão. Ao estímulo da música.
Quanto a vozes, vou arriscar uma comparação. “As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”, dizia Vinícius de Moraes. Sem entrar no mérito da afirmativa, parece que isso se aplica com propriedade e sem ironia à beleza da voz, dom da natureza, herança genética, ou “Foi Deus que deu essa voz a mim”, como no fado. Quem não possui uma voz privilegiada, meu caso, ou, no como de minha esposa, uma soprano admirável, essa disparidade não discrimina como na beleza física, ao juízo de Vinícius de Moraes.
Uma partitura, mesmo amarfanhada, pode servir de bandeira branca,
de harmonia, de paz, humanizando e irmanando... Que viva a música!