E se todos gostassem do (cinquenta tons de) cinza...?

Resolvi ler por livre espontânea curiosidade. O que este tal “Cinquenta tons de cinza” tem de tão extraordinário para enlouquecer a mulherada, além de Christian Grey? O galã sedutor que me fez relembrar a antiga marca de perfume (Christian Gray; lembra?).

Tomei a decisão num sábado a tarde, quando me encontrava no supermercado. Mais especificamente em frente ao expositor de livros. É agora ou nunca, pensei. Tenho que descobrir que raio de poder é este - que os tons de cinza possuem- que está levando até os homens a lerem o romance.

Ao passar no caixa as atendentes ficaram alvoroçadas querendo saber de mim o que havia ali dentro - naquelas centenas de folhas escritas - que estava deixando as clientes enlouquecidas. Ainda não sei, respondi. Mas hoje mesmo eu descubro, e prometo contar a vocês.

De volta ao lar, me atiro na cama de sandália e tudo. Rasgo apressadamente a embalagem plástica da famosa obra, mentalizando “venha a mim Christian Grey! Faça comigo o que tem feito com a sua Anastasia (a moça de vinte poucos anos - ainda virgem - que caiu estatelada no chão de seu escritório) e com as mulheres de olhos brilhantes e sorrisos largos, que tenho encontrado todos os dias recitando o seu nome como se fosse o antídoto para a vida eterna.” —Chris-ti-an-Greyyy!

Meu filho surge na porta do quarto e tenta falar a velha e corriqueira frase: “O que tu tá fazen...?”. Nada. Não posso falar agora, estou conhecendo Grey. Fecha a porta! No final do último capítulo a gente conversa.

Algumas dezenas de páginas depois...

Ainda que o tombo da mocinha do livro tenha soado patético demais; que descobrir que ela ainda se mantinha virgem (às vésperas de se formar na faculdade, em pleno século XXI) tenha ecoado em minha mente como: “tá gozando da minha cara, né?”. Ainda que o fato de Grey ser lindo, rico, educado (a ponto de falar como um lorde do século passado), piloto de helicóptero, ter um jeito Magaiver de ser (que dá jeito em tudo), tenha me deixado nauseada pelo excesso de doçura; que ler relatos de sexo e sadomasoquismo a cada três ou quatro páginas tenha consumido toda a minha paciência e acionado o botão de leitura dinâmica (pular de um parágrafo para outro procurando algum fato interessante e inusitado). Enfim, apesar de todos os pesares, desafiei a mim mesma. Vamos lá garota!Se todos conseguiram você também consegue. Leia até o final!

Não li. Mas já estou quase lá. Cada vez que entro em meu quarto e olho para gravata cinza do Sr. Grey estampada na capa, desejo que ela me puxe e me prenda como fez com Ana, a submissa. Não tem dado resultado. Creio que Christian não seja meu tipo. Que Ana não se pareça nada comigo. É isto. Somos incompatíveis, eu e os cinquenta tons de cinza. Quem sabe se fosse de azul, roxo, violeta...sei lá!

Admitir ser imune ao poder de um Best Seller é uma coragem e tanto. Sério! Corro o risco de ser linchada pelo fã clube de Grey. Ser processada, bullyinada, escorraçada, ignorada, e, o que é o pior, perder todos aqueles leitores que dedicam um pouquinho de seu precioso tempo lendo os meus textinhos, minhas cronicazinhas de tom nenhum.

Mas não posso omitir a impressão que tive já nas primeiras páginas. Cinquenta Tons de Cinza é nada mais, nada menos, do que uma reprodução das antiguinhas e românticas Bianca e Sabrina que li na adolescência, só que numa versão pornográfica e sadomasoquista.

Porém, cá estamos numa daquelas ocasiões em que não foi bom para mim, mas pode ter sido maravilhoso para você (assim como foi para Anastasia). Então, se foi, deite, role e chicoteie!

Defendo a leitura até debaixo d’água (embora, às vezes, tenha vontade de assassinar certos personagens por afogamento).

Por isso, quando topar com as mocinhas do supermercado e elas me perguntarem se gostei dos cinquenta tons de cinza,não direi que sim, nem que não, apenas que não comprarei os outros cem.

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Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 22/11/2012
Reeditado em 22/11/2012
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