Crônica do trem
Essa volta é tão imensa que chego a esquecer o destino de cada passo. Solitária mas povoada por sonhos refletidos no vidro, onde todos os sorrisos foram roubados pelo cansaço e cada rosto preserva sua individualidade com medo, fechando as possibilidades com a feição de famintos por atenção, mas orgulhosos e protegidos pelos seus livros, celulares e olhares perdidos que observam uns aos outros.
São todos reféns de uma rotina vazia, complementos de uma roda que nunca para, sufocando cada pescoço que que busca além dos limites, blindando os olhos que procuram abrigo, tirando a esperança da liberdade e definindo a certeza de um cárcere em que nós mesmos possuímos a chave.
Precisamos de coisas que nunca foram necessárias nessa liberadade experimental, saboreando a solidão dos aparelhos eletrônicos enquanto estamos acorrentados à corrente elétrica . Só observamos as figuras que cercam nossas desconfianças, perdendo a interpretação dos fatos e construindo paisagens estéticas que conquistam mulheres e amigos, reinventando a relação humana através de bonecos coloridos que nunca estão tristes.
Temos todas as respostas guardadas na insatisfação do outro, que figura nossos caminhos com os reflexos de nossas dúvidas. Quais as perguntas que devem ser feitas? Quem deve perguntar?Existe algum motivo para responder?
Acordei com uma vontade de saber como eu ia, e como ia meu mundo! (*)
(*) Jorge Ben – Porque é proibido pisar na grama?