Uma barata voou pela minha janela colidindo contra meu peito nu. Eu estava no computador, com um fone de ouvido, ouvindo uma entrevista na Roda Viva com o escritor Mia Couto. No primeiro movimento sempre vem o susto. Impedido pelo fone de ouvido, como um prisioneiro preso aos seus grilhões, não pude ir atrás do puto que voou para a minha pequena biblioteca. Ainda vi esse voador kamikaze direcionar seu plano de voo para o meu corpo querendo me pegar. E depois, com uma reviravolta típica dos ases da aviação, deu o retorno e se encaixou nos vãos dos meus livros didáticos. Corri para me armar. Era guerra declarada. O maldito inseto havia invadido meu território, ignorando o tratado de paz que havia assinado há menos de um mês, quando matei um dos seus conterrâneos. Busquei minha bomba química e estourei em uma das cavernas que deveria estar alojada. Com uma tática de Bin Laden, ela se escondeu num conjunto de buracos que fazia meus livros empilhados na estante. Mas não tive dó. Os recursos financeiros guardados eram realmente para alimentar qualquer represália contra a soberania nacional do meu país particular. Eliminei todas as reservas de produtos químicos na esperança que o inimigo saísse tonto a ponto de eu dar-lhe um golpe fatal. Não me contentei e fechei todas as fronteiras, rompendo laços com as embaixadas barateais. E invadi o terreno das malfadadas, encontrando o kamikaze e trucidando-a com meu potente sapatênis. Um sentimento de dever cumprido me invadiu e deixei o corpo do soldado sobre as terras inimigas como aviso a qualquer outra barata que queira tentar invadir novamente meus domínios.