Retrato da Avenida São João

Era início do ano de 1968 quando comecei a trabalhar em uma indústria siderúrgica no bairro da Mooca. Meu horário de trabalho terminava as 18h00min horas, horário que eu voltava para a pensão. Após o jantar eu costumava passear a noite no centro da cidade.

Tomava o ônibus na Avenida Presidente Wilson na Mooca e descia na Praça Clóvis Beviláqua naquele tempo as praças eram distintas uma da outra, sendo Praça Clóvis, Praça da Sé e Largo João Mendes. Com a construção do metro em 1975 o prédio do Cine-Theatro Santa Helena um enorme edifício juntamente com restaurantes, bares e lojas no térreo também foram demolidos, assim como o grande edifício das empresas R. Monteiro. Esses edifícios separavam a Praça da Sé da Praça Clóvis.

Deste local eu partia para minhas andanças noturnas, passava pela Praça da Sé, descia pela Rua 15 de novembro e da Praça Antonio Prado ao lado dos edifícios do Banespa e Martinelli, começava daí a Avenida São João.
A Avenida São João já estava perdendo seu glamour que vivera na década de 50, mas, mesmo assim ainda tinha seus encantos.

Acabara de chegar de uma pequena cidade do interior paulista e ainda estava perplexo com a grandeza da cidade de São Paulo, meu desafio era conhecê-la, para os visitantes era um grande desafio.
Foi nessa ocasião que conheci a Avenida São João, Tinha trânsito nos dois sentidos, a avenida tinha cinco faixas de trânsito era impossível atravessar. Semáforos eram poucos e sempre com defeitos. Os carros vinham da Praça da Sé em alta velocidade.
Nessa época ainda havia muitas lojas de tecidos, confecções e modas, cinemas, restaurantes, bares, boates.  O centro da cidade era magnífico, muito bonito, tudo que procurássemos, encontraríamos.

No final de ano próximo do natal as lojas, restaurantes e outras casas comerciais enfeitavam suas vitrines por isso era comum visitantes de muitas cidades do interior do estado virem a passeio.

Descia passando pelo Correio Central, parava para ver os filmes em cartaz nos cinemas da chamada Cinelândia onde ainda existiam os cinemas Art-Palácio, Paissandu, Olido, Metro, Regina, Comodoro, Cine Espacial, Éden. Chegando às esquinas das Ruas Conselheiro Crispiniano com a Avenida São João estava o Largo do Paissandu, com a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, hoje muito modificada a praça.

Os frequentadores dos restaurantes e hotéis ainda eram de primeira linha muitos eram diretores, gerentes e secretárias de grandes empresas do centro, assim como trabalhadores de lojas , escritórios e outras empresas.
Em frente ao Largo do Paissandu havia as Grandes Galerias um verdadeiro shopping em uma época que essa palavra não existia em nossa língua.
No mesmo quarteirão a Galeria Olido, entrando pela avenida e saindo para a Rua Dom José de Barros, na galeria havia o Cine Olido, salões de beleza, lanchonetes, uma grande joalheria,  um grande restaurante chamado O Leão do Olido ficava no subsolo podendo se adentrar pela avenida ou pela Rua Dom José de Barros.

Na esquina da Avenida São João com a Avenida Ipiranga ficava o famoso e não menos importante o Bar Brahma tradicional e importante restaurante, diz a história da casa que foi muito frequentada pelo ex- presidente e falecido Dr. Getúlio Vargas na década de 50 e os artistas Caetano Veloso e Gilberto Gil na época que residiram no centro na década de 70. Seguindo em frente o edifício Andraus, citado na minha crônica Andraus, com seus escritórios e no térreo uma grande loja de departamentos, uma das maiores da cidade. Na Praça Júlio Mesquita ficava o File do Moraes, restaurante quase centenário e o Carlino,  ainda em funcionamento.

Próximo do Largo do Arouche ou Mercado das flores como era conhecido, encontrava se ainda importantes restaurantes e cinema como Cine Regina e San Raphael Hotel, e mais adiante depois do cruzamento da Avenida Duque de Caxias o Cine Comodoro, na época com alguns poucos filmes conhecidos como 3ª dimensão. No final da Avenida foi construído o Elevado Presidente Costa e Silva conhecido também por Minhocão,  no ano de 1970.

A Avenida São João foi o cartão de visitas da cidade de São Paulo, eu tinha satisfação e orgulho em frequentar as lojas, restaurantes, boates, aos cinemas todos os sábados á tarde. Para um jovem solteiro e livre morando sozinho tive a melhor vida de boêmio.

Lembre-se da frase: "Um povo sem memória, é um povo sem passado e sem futuro" (Autor desconhecido
).
NOSLEN OLEBAR
Enviado por NOSLEN OLEBAR em 21/11/2012
Reeditado em 21/06/2018
Código do texto: T3996771
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.