Como nasce um cafajeste

Homem não presta.

Costumo ouvir esta frase com muita frequência. Geralmente de mulheres. Geralmente de mulheres furiosas com alguma coisa que seu marido ou namorado aprontou.

Aquela teoria de que mãe é tudo igual, só muda de endereço funciona melhor nos lábios femininos. Na verdade, homem é tudo igual e só muda de endereço. Ao menos na concepção das minhas colegas, primas, tias, vizinhas e leitoras. Enfim, de toda mulher com que um dia já me relacionei.

De tanto ouvir estas palavras hoje concordo plenamente com elas: homem não presta.

Convenhamos, que homem que você defenderia com unhas e dentes que não fosse o seu pai? Por qual homem você colocaria a mão no fogo em matéria de impulsos, vamos dizer... Do organismo? Nenhum? Eu também não.

Não quero constrangê-las, mas tenho certeza que algum homem, um dia, há muito tempo atrás já fez você chorar. Em algum momento de sua existência, nem que seja na adolescência, você já chamou um sujeito de cafajeste.

Aquele tipo clássico: moreno alto, bonito, olhos castanhos, cabelos negros esvoaçantes, com uma voz como de muitas águas. Era inteligente, fazia você rir e era simpático ao ponto de fazer com que todas as mulheres – e alguns homens, sabe como estão as coisas hoje em dia – ficassem caidinhos ao seu redor. Você era jovem e ele mais velho. A segurança que ele transmitiu a você fez com que se entregasse completamente a ele. Um estranho, mas que parecia que você o conhecia há séculos. “É muita química” você dizia para as amigas. “Ele é o homem da minha vida” você suspirava pelos cantos.

O tempo passou e ele não ligou, Não enviou uma mensagem. Nem sequer curtiu o vídeo com a música da Adele que você compartilhou na rede social. Nada. Nenhum sinal de vida. Apenas a incógnita que por dias perturbou seus pensamentos e atrapalhou seu trabalho e estudo: será que eu fiz algo de errado?

Apesar de não entender o que estava acontecendo você persistiu. Um filme passava na sua mente sonhadora e idealizadora. Uma daquelas comédias românticas sem graça alguma que... Quero dizer, como os romances que você via no cinema. A garota conhece o garoto e se apaixona por ele. Eles não conseguem ficar juntos por alguma eventualidade besta... Ops, por um motivo sério quis dizer. Ela apronta muitas peripécias, faz todo mundo dar risada e no final eles acabam ficando juntos. Sua vida seria um filme. Você seria a princesa encantada. O problema é que você não contava com outra personagem: a vaca.

Enquanto você conversa com uma amiga na praça de alimentação do shopping, longe você o avista. Tão lindo você diz. Mas algo estava errado. Quem era aquela baranga ao lado dele. Nunca vi mais gorda, você pensa. Então, a faca da desilusão apunhala seu coração. No meio do corredor, em frente sua loja favorita ele, o homem da sua vida, agarra a estranha pela cintura e lhe tasca um grande beijo. Aqueles de cinema. De estalar. E você apenas olha e diz:

- Vaca!

Quando chega em casa você se atira na cama e chora. E chora. Como se uma parte de você tivesse morrido. Como se seu coração estivesse em pedaços. Na verdade, ele estava. As últimas forças que lhe restam são reunidas e usadas no pronunciamento da frase que mudaria sua vida:

- Cafajeste! Homem não presta, mesmo.

Você tem razão. Homem não presta. Homem faz apenas o que lhe é interessante. Homem procura apenas seu próprio benefício. Homem é insensível. Homem quer apenas usar a mulher.

Verdade. Mas apenas em parte. Esta é a reação. Não a ação.

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A cafajestice masculina não é algo natural. O homem não é um monstro de nascença. Ele se torna um pelas circunstâncias da vida.

Todo homem é cavalheiro. Todo homem é sincero. Todo homem é bom ouvinte. Todo homem é seguro de si. A questão é que em algum momento ele foi pervertido por um ato tenebroso. Por isso o homem, hoje, é tudo isso apenas até ele conseguir o que quer da mulher. O homem é um cafajeste por causa da cafajestice feminina.

A prova? Ora, é só examinar a história amorosa de um cafajeste. Dica: olhe com atenção para a primeira namorada ou para o grande amor de sua vida. Veja como ele se portava de maneira exemplar. Agora note o que ela fez. Das duas uma: ou ela o abandonou por ele não ter dinheiro sobrando ou o traiu com o ex-namorado.

Isso mesmo: na verdade todo cafajeste antes um dia já foi corno.

Desde então ele prometeu para si mesmo que não passaria por isso de novo. Não entregaria seu coração para nenhuma outra mulher para evitar qualquer possibilidade de vê-lo partido outra vez. Ele “aproveitaria” a vida. E faz isso desde então.

Explicada a origem do cafajeste eu fico a me perguntar: é realmente o homem que não presta?

Eduardo Dorneles
Enviado por Eduardo Dorneles em 20/11/2012
Código do texto: T3996297
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