Diários de Sonhos - #014: Adelic Morreu!
Morava na minha vizinhança um velho pedreiro chamado Seu Adelic. Nunca tivemos relações com ele a não ser em duas ocasiões: quando eu era pequeno eu taquei pedras no telhado dele e o velho veio reclamar com meus pais, e outra vez que ele foi contratado para fazer serviço de pedreiro. Um dia ele morreu e foi o assunto da vizinhança por... 3 dias. Sabe como é, cidade grande, notícias correm muito rápido. Fiquei surpreso com a atitude de meus pais, que mal conheciam o velho, foram no seu enterro, choraram pelo desconhecido. Durante 3 dias seguidos o assunto foi "Adelic morreu". Neste sonho eu o matei de novo.
Eu sonhei...
Sonhei que era noite e não tinha nada pra comer. Peguei um dinheiro e fui até o açougue. Tinha dois acougues, um quase do lado do outro. O primeiro era mais barato, mas de pouca confiança. Fui no mais caro. Pedi dois quilos de carne moída e um quilo de batata. Eu só tinha dez reais. Vi um salmão muito bonito e perguntei quanto era. O açougueiro respondeu dez reais. Não ia dar pra comprar carne, batata e salmão. Disse que ia dar uma olhadinha no açougue ao lado. Eu pretendia comprar o salmão lá.
O estabelecimento era uma longa garagem, com o açougue lá no fundo. Estava tudo muito escuro, as luzes apagadas. Fui até lá. Estava tudo quebrado e vandalizado. No chão, debaixo de uma pesada porta de madeira, havia uma massa de carne esmagada, com as pernas e braços pra fora. Levei um susto e entrei em desespero. Tentei fugir, mas a porta da garagem estava trancada agora e eu não tinha ouvido nenhum barulho. Pessoas passavam na rua e eu gritava "Adelic morreu! Adelic morreu!", mas nenhuma delas prestava atenção. Olhei pra trás e vi um vulto negro saindo das sombras. Carregava uma faca e vinha em minha direção. Gritei com mais força ainda "Adelic morreu! Adelic morreu!". Era tudo o que eu conseguia dizer. O vulto estava mais próximo. Tentei pular o muro, mas só consegui olhar do outro lado. Meu pai estava regando o jardim vizinho. Gritei pra ele "Adelic morreu! Adelic morreu!". Ele olhou pra mim e não fez nada. Continuei a gritar, mas ele ficava lá, parado me olhando.