Povo dançarino

Povo Dançarino

Um belo domingo cinzento de uma primavera que muito promete. Com finais das campanhas políticas para as eleições municipais, mornas como sempre. Poucos ou ninguém parecem interessados. Os debates levados a efeito, não conseguiram galvanizar paixões. Propostas? As mesmices de sempre. Algumas ridículas.

Eu matutando sobre essas questões, aqui sentadinho numa discreta mesa de um bar, não um bar qualquer, mas o Sheiks Bar, aqui na nossa aprazível Itapoã, enquanto tolero o burburinho, ao meu redor, que é o de sempre. Inconsequente, sem compromissos, sem princípio meio e fim e, quase sempre sobre futebol. Ufa! O futebol brasileiro, hoje, muito ruinzinho. A única unanimidade: a má fase do Flamengo!

Enfim sou atendido e servido. Uma taça do habitual vinho chileno tinto seco, da minha uva predileta: carbenet sauvignon. Coisa gozada: vinho chileno mais barato do que o nacional. Dá para entender?

O sol encoberto por nuvens mantém o tempo abafado e úmido, um clima de estufa. Um e outro assíduo frequentador do bar cumprimenta-me à distância. “Oi Nandú, tudo bem? E o mengão”? Penso: sempre futebol! “Hoje tem Fla x Flu”!...

Eu cá resignado respondo sem muito entusiasmo: mengão na cabeça. E ainda cá com os meus gastos botões... Que cabeça?

O vinho equivocadamente servido gelado, aliás, um costume atravessado largamente cultivado aqui por estas bandas ficou na taça “dormindo” um tempinho, para a troca de temperatura – ele gelado e o tempo quente, atingiu rapidamente uns 22ºc. No ponto! E de pronto foi sendo sorvido lentamente.

Mas o domingo continua. Na rua a desfilarem, belas mulheres faceiras, a exibirem seus dons e charmes, transitam num vai e vem constante. Os corujas gastos pelas várias primaveras vividas e lembranças de pretéritas conquistas, ficamos a admirá-las... Como são bonitas ( para falar com todo o respeito)!

E o abafado domingo continua. O tempo não para; as horas? Está correndo para as doze... A “boia”, em casa, está sendo bem elaborada. Domingo é no capricho! Mas a fome ainda não bateu... Tomo mais uma taça de vinho. Agora a temperatura está no ponto, já que eu retive a garrafa comigo, colocando-a no chão, ao pé da amarela e discreta mesa fora da refrigeração. Opa! Sou bruscamente interrompido. A caneta na mão fica no ar. Um freguês, que de chofre o identifique como: “Marcos Valério”, o homem do momento! Brincadeira! Mas o cara é deveras muito semelhante ao famoso e midiático personagem, lá das Alterosas.

Ele meio de fogo, dispara, olhando o meu rascunho, um tosco pedaço de papel, sobre a mesa, que eu estava a rabiscar. “Você consegue ler isto que estás a escrever? Estes rabiscos? Por acaso você ganha algum dinheiro escrevendo isto”? Não cara! Escrevo como hobby, para me divertir. Dinheiro só com o seu sósia... Milhões e mais milhões...

Ele ri. Aceita a comparação e, afastando-se ensaia alguns passos desajeitados de samba, cuja música só ele ouvia, como a demonstrar o descaso, desdém pela insólita observação.

Eu cá com os meus surrados botões... Nos passos de samba, ele falou muito mais sobre a nossa realidade dos que aos berros ao meu redor, falavam sobre uma alienada realidade, qual seja o nosso esporte bretão. Mas não ouso entrar nesse mérito

Mas enquanto isso... Milhões, milhões... É estamos dançando!

Ele se afasta... Volto então à minha inspiração... Eta domingo cinzento. O primeiro desta promissora primavera... Neste tempo, um final apoteótico e midiático é aguardado... “Todos culpados”!

“Mas isso não é nada, nada, é uma mixaria”! Grita outro freguês. Sim? Respondo.

“E o Valerioduto tem fundo? E o duto aonde vai parar”?

Só o Quinzão sabe!

Nandú 01/10/2012

BNandú
Enviado por BNandú em 20/11/2012
Código do texto: T3995213
Classificação de conteúdo: seguro