A Caixa de Chocolates

Hoje cedo tive que voltar ao jardim. Estava verde e bem arrumado com algumas flores coloridas.Sentei me no banco e me lembrei do filme.Assisti ontem Forrest Gump. Já tinha visto há muitos anos atrás. Mas me levou a algumas conclusões óbvias. A pena voando no início do filme com a analogia a nós mesmos, em contraponto com o destino fixado. As vezes tenho a sensação de que está tudo pré determinado,que somos influenciados em nossas escolhas para coincidir com o que virá e as vezes considerarmos milagres.As vezes me sinto como a pequena pena branca voando ao sabor do vento. E aceitar a brisa ou a tempestade, a calmaria ou o vendaval. E as vezes tudo junto. Como se pudesse influenciar o caminho dela no espaço aberto. Na campina iluminada ou no vale escuro. Sei lá. São apenas conjecturas. Coisas que me vieram a cabeça e não queria deixar passar. Ou como aquele eterno amor que resiste o tempo todo e só se rende quando é indispensável, quando não tem mais jeito. Quando a segurança do que virá já nos abandonou. Quando o reconhecimento só chega muito tarde, quando não esperamos mais que venha. Abandonando o cansaço, a imediata compreensão. Caminhando ( no caso correndo ) até mandarem parar. Até que a caixa de chocolates esteja vazia e não precisemos nos importar mais.

O vento bateu mais forte agora, juntando aos meus pés algumas folhas secas do carvalho próximo.Estavam cor de cobre. Agora apenas uma brisa, tocando suave como as cordas de uma harpa . Não deixei a lágrima correr.Segurei-a na ponta do dedo e a deixei cair no lago da imaginação, onde causou muitos círculos ,descendo até o fundo.Mexi os pés e havia uma folha amarelada com algumas frases escritas escondida entre as outras folhas.Não tinha título ( o papel estava meio rasgado ).Não dava também para saber se estava completa. Com respeito ao autor, reproduzo abaixo:

Como Minerva .

Como se Gaia fosse

Nix e Hemera

Mas não Hera nem Hestia.

Foges de Belona

Apega te a Métis

Não como aérea Phoebe

Mas Mnemosyne,para o que valer

Sede Selene e não Hécate

Te ilumine Astéria

Nos momentos de Éria

Te livre de Nêmesis

E Macária e Perséfone te acompanhem quando chegar a hora.

Ishtar se revele,

E Flora caminhe ao teu lado.

Não captei o sentido geral do que estava escrito.Me pareceu uma mistura de deusas gregas e romanas e talvez alguma outra cultura.

O vento fez um pequeno redemoinho ao meu redor e voltei a pensar no filme.E conclui que apesar de me dividir em outros,continuo sendo só eu só . De nada adianta querer me separar para sobreviver. Se sobrevivi até agora foi porque me mantive único. Acho que foi mais uma brincadeira comigo mesmo, achando que seria mais fácil. Mas cai em ”si” ( como me disse o entregador de pizza outro dia e eu o corrigi e depois me arrependi ) . E sei que vou sempre ser esta pessoa morna, sem o calor e entusiasmo dos outros. É claro que um pouco deles ficara sempre comigo, visto que somos ( Opa ! ) sou um só. Apenas para esclarecer,há uns tempos,por motivos que não cabem esclarecer aqui,me dividi em três, Sergio, Kevin e Omar.O quanto ficará de cada,não sei.Mas nenhum será único e exclusivo.Serão como as “ metades “ da mesma moeda. Serão como eu. As vezes é difícil perder o encantamento. Mas é preciso seguir em frente. Não se pode parar na beira do caminho.Por mais duras que sejam as pedras. Por mais que as pessoas nos empurrem tentando nos ultrapassar .