Aniversario de casamento

Vinte anos de casamento.

Eles se sentem heróis, afinal chegar até ali, foi vencer uma corrida de obstáculos.

Havia amor até de sobra, mas faltava maturidade.

Havia disposição pra ir adiante, mas faltava tolerância no dia a dia.

Houve períodos bons, outros ótimos e alguns terríveis.

Olhando pra trás, sorriem, lembrando como foram tolos algumas vezes. Salvou o casamento o desejo de continuarem e bons exemplos em família.

Parentes chegando, amigos...

Cobram um discurso deles, ao som de muita musica e animação.

Ele nunca foi bom de conversa, mas limpa a gargante e volta-se pra ela falando:

Casamos apaixonados, mas teve dias em que eu te odiei.

Só o olhar espantado dela e uns risinhos disfarçados, conserta:

Mas eu continuava te amando mesmo no ódio.

Lembra quando Junior nasceu? Tu ficaste insuportável e mil vezes por dia, eu pensava em ir embora. Cheguei a fazer a mala, duas vezes e punha em cima do guarda-roupa. Ao te ver dormindo, eu desistia.

Ela sorri, limpando uma lágrima disfarçada.

Ainda bem que fiquei, e sei, já sabia naquela época, que se eu fosse, eu voltaria.

Depois quando ficavas terrível, eu me sentia covarde... hoje sei que fui maduro, afinal, eu iria voltar mesmo...

Ele continua a falar e reafirma seu amor e mais do que nunca agora, a vontade de fezer 40, 50 anos de casados. Se cala sob aplausos, enquanto ela se aproxima pra abraçá-lo.

É a vez dela. Ela se aproxima confiante, afinal, soube agora de coisas que nem imaginava, como das malas prontas escondidas sobre o guarda-roupa. Sente-se mais livre do que nunca.

Eu nunca me arrependi nenhum dia de ter casado contigo.

Aplausos e ele manda-lhe beijos. Ela sorri de um jeito maroto, torce o nariz e sapeca esta.

Mas cada vez que deixavas a cueca atrás da porta ou a toalha no chão do banheiro, em imaginava em detalhes como te matar. Me especializei em torturas, posso descrevê-las agora...

Risada geral e ele torna a mandar-lhe beijos.

Pensei nisso por anos e sempre acrescentava um detalhe cruel na tortura. Quando gritavas comigo, eu ensaiava o arremesso de panela de pressão... cheia.

Mais risadas. Ela fica séria, silencia, olha profundamente pra ele e diz:

Embora esses ódios naqueles situações fossem reais, eu nunca me imaginei sem ti. Pensava no que te fazer e me imaginava viúva. A raiva passaava, embora eu mantivesse a postura, pra não perder a pose.

Em todos esses anos, nunca imaginei desisitir de nós, pois estar sem ti, seria como estar fora de mim. Sem ti, eu não seria eu. Não, não falo de completude; sou inteira, mas sem dúvida, seria menos bom em qualquer aspecto. Contigo, eu sou eu duas vezes.

Eles se abraçam e a festa corre solta. Sabem que depois de hoje, dobrou a vontade de permanecer unidos mais ainda. O mundo deles balançou muito e eles, souberam lidar com isso, agora então...