Mudança de roupa
Loja cheia e ela topa com a velha conhecida. Trocam informações sobre parentes, comentarios engraçados e no meio daquilo, entre o nome dos parentes de ambos os lados, sai o nome dele. A conhecida dá noticias falando dele, como de todos os outros parentes.
Ela sorri, comenta, acrescenta, se despedem...
Ela sai da loja e se pergunta como as pessoas não percebem que amor fica, só muda de roupa.
Não, não lhe faz mal, não lhe acrescenta nada, só faz parte. Só a conhecida sensação de que o tempo parou naquele evento específico. Ali tudo está congelado, nada mudou.
O nome dele solto no meio da conversa, não lhe trouxe dor, incômodo, más lembranças, nem foi surpreendida, mas como ninguém percebe que embora o tempo tenha passado, aquilo ficou?
É uma sensação engraçada, um fiapo que prendeu na roupa, um tecido que se prendeu ao varal?
Uma coisa que permaneceu em meio às mudanças, fixou na correria do tempo.
É algo que está lá; nem se percebe, mas está lá; se vive sem notá-lo, mas está lá. Já faz parte da paisagem mental, já faz parte do baú; nem é uma memória, não suscita lembranças, não dá nostalgia, mas está lá, cobre todas as coisas sem que seja notado.
E tudo isso só porque se confundiu na paisagem, se disfarçou na memória, mudou de roupa, se aquietou, não faz alarde.