Domingo. Noite. Nós no sofá, eu e a minha namorada
 na casa dela, em B.H. A Anninha fora pra cama, aula pela 
 manhã, já dormia. Eu e ela, mãos dadas, curtindo um filme  
 De repente, vi  a sala rodopiar, tentei me levantar e caí. E
 uma ânsia de vômito seguida de uma terrível dor de cabeça que comprimia o coro cabeludo.Fuicambaleandoao
 banheiro e ela, que é a minha médica ( é veterinária ), me 
 acompanhou . Tentei forçar o vômito, não consegui. A dor
 aumentando, eu gritei:
 __ Pega uma agulha e me fure...
 __ Como? Furar você?
 __ Rápido... fure o meu dedo pro sangue sair, eu acho que tô tendo um derrame cerebral...
Furou. O sangue jorrou e a pressão diminuiu um pouco. É
o seguinte: minha avó paterna morreu de derrame 
cerebral. Meu pai me contara que o médico que a atendera
disse que se tivessem furado uma das veias dela, talvez
ela se salvaria. Lembrei-me, não sei porquê. E orientei 
Arilda para esse procedimento. 

     No hospital fui para o centro de imagem. Tomografia.
Não deu outra, lá estava o coágulo. Fui transferido para
um quarto e mantiveram o soro. Meus filhos já estavam
por lá. E começou a maratona de remédios de hora em
hora, soro sendo trocado, silêncio da médica que me 
acompanhava, choro, preocupação, e eu na maior calma.
A dor de cabeça diminuíra bem, a minha família perto, a
minha namorada, ídem, e sendo medicado. Desesperar,
jamais. Ainda brinquei:
__ Se der operação, chama um juiz de paz antes... quero
me casar com você, só por garantia...
      
      O Zener estava de férias e ficou comigo. Bateu muito
sono e os sonhos não me lembro até hoje. Pela manhã
vieram conversar conosco. 
__ A situação é delicada, vamos esperar a reação dos
remédios. Evite levantar-se e qualquer esforço físico. 
Amanhã, vamos fazer uma arteriografia pela manhã e 
analisarmos a situação... até lá, não se agite, não pode se
levantar da cama pra nada, ok?
Fazer o quê? Mas chorei, silenciosamente, assim que o
médico saíu. O Zener respeitou o meu choro. Não foi
piegas.
__ Filho, comeu alguma coisa? Se quiser ir em casa,
vá... à noite, você volta. Vá tranquilo, não vou fugir daqui.
Riu. Lembrou-se que eu já fugira uma vez, no horário de
visitas. Foi uma queda de pressão. Já tava legal. Enchi o
paletó de vento e desapareci. Ele era um garoto, na 
época.
__ Vou esperar a Lu,e o Breno vem depois do serviço dele.
__ Então, tá... vou tentar dormir, Ok?

     A arteriografia confirmou a tomografia. Marcaram uma
reunião com a família na parte da tarde. Íam me operar,
tentar retirar o coágulo. Mas, devido à minha  idade, havia
riscos. Me puseram a par. Engraçado, a única coisa que
me preocupava é que faltavam poucos dias para o Natal e
eu iria atrapalhar a vida de todo mundo, com qualquer 
resultado, naquele dezembro de 2009.

      À noite, no silêncio, Breno dormindo, eu fiz uma 
análise da minha vida. Mesmo entorpecido de remédios,
eu raciocinava, então, me lembrei de uma máxima:
"Eu era proibido de ficar doente."  Eu criei os meus filhos,
sózinho, assim que eu separei da mãe deles, eles vieram
morar comigo. E eu sabia que dentro de mim morava um
médico, o maior de todos os médicos. Então, eu orei:
__ Senhor Jesus, eu acredito que o Senhor é a minha cura
e que habita o meu interior... perdoa-me, Senhor, pelos
meus pecados por pensamentos, palavras e ações. Se for
do meu merecimento, eu lhe peço, Senhor, me cure, assim
como curaste o servo do centurião romano, mas se eu 
tiver que passar por essa provação que seja feito de 
acordo com a Sua Vontade à qual me resigno... Que assim
seja, Senhor, amém. E orei a Prece de Cáritas.

     Pela manhã acordei cedo. Estava calmo. De repente,
um Beija-Flor adentrou o quarto, circundou os quatro 
cantos e pousou na cabeceira da minha cama. Ficou lá
alguns segundos e desapareceu pela janela.

      O médico que veio me buscar quis repetir os exames.
Ele, era a primeira vez que o via. Alegre, tranquilo, quis
tirar as dúvidas. O primeiro exame foi uma tomografia.
Com o resultado nas mãos, ele marcou uma arteriografia
para a manhã do outro dia. O médico exalava um perfume
de jasmim. 

     Dois dias depois eu tive alta. Marcaram um retorno para
o princípio de janeiro, prescreveram os remédios, a dieta,
etc. Passei um belíssimo Natal, todo paparicado. Não é
preciso dizer que a tomografia em janeiro nada acusou. E 
que não tive nenhuma sequela. E as tomografias e 
arteriografias de antes e depois estão comigo, mostrando
o quanto o Senhor Jesus é maravilhoso. Paz Profunda a
todos.