Outros amores

Não acredito muito nessa ideia, que as pessoas carregam, de que só se ama de verdade uma vez na vida. Ao meu ver isto não está certo. Pelo menos não totalmente. Como sempre, tenho um ponto de vista diferente do de muitas pessoas. Gosto de tentar enxergar as coisas por uma ótica diferente e um tanto minha. Algo bem particular. Amar alguém pela primeira vez não nos torna incapazes de entregar o nosso coração novamente para uma outra pessoa. Não nos deixa invulneráveis ao amor. Ao seu efeito colateral sobre a pele. Não impede que o nosso coração queira saltar novamente do peito e sair pela boca. Não impede as nossas mãos de suarem frio e nem de sentirmos o estômago embrulhar. Nossos olhos não perdem o brilho definitivamente, ainda que aquele teu primeiro-amor tenha sido durante muito tempo o motivo do sorriso em teus lábios e do brilho em teus olhos. O motivo de conversas sem fim pelo celular ou de noites em que você sonhou acordado. Ainda que ele tenha feito das coisas simples algo de um valor inestimável. Nem mesmo se a transa tenha sido maravilhosa e ele tenha feito você, definitivamente, feliz.

Talvez não amemos com a mesma pureza e intensidade de antes, pelo fato de termos inicialmente uma ideia pura do amor. Assim como ele é e deve ser visto. Talvez pelo fato dessa pureza “sujar-se” ao ponto que um relacionamento idealizado como eterno chegue ao fim, passamos a enxergar o "apaixonar-se" por alguém como um sofrimento. Encontramos alguém, conhecemos, nos envolvemos, nos apaixonamos e alimentamos durante todo esse processo um medo constante de sofrer. Muitas vezes um medo de um fim trágico acarretado de muitas lembranças ruins, lágrimas sobre o travesseiro e corações repartidos. Histórias divididas, vidas feridas. Amar alguém pela primeira vez definitivamente marca a nossa vida. Marca profundamente. É uma experiência única! Nosso primeiro-amor jamais se repetirá! Todas as vezes que sucederem a este serão sempre um segundo, ou, terceiro amor. Jamais primeiro! E nem todo primeiro-amor durará para sempre!

No primeiro amor temos aquela idealização de que se o relacionamento chega ao fim, não era amor. Mas a grande verdade é que muitos relacionamentos começam sem qualquer vestígio do mesmo, e passamos a viver como se fosse normal estarmos sem. Como se fosse normal compartilharmos nossos sonhos e planos, nossa cama e escova de dentes com alguém que não amamos. Com alguém que nem temos tal interesse. Nos acostumamos e nos acomodamos a viver sem amor em nossos relacionamentos e levamos tudo com a barriga até o fim inevitável, bem como o machucar dos corações. Existem também aqueles relacionamentos que acabam, mas o amor permanece. Machucado, ferido, escondido por detrás das coisas que passam a tomar prioridade em nossas vidas. Atrás do orgulho. E o amor é sempre deixado pra depois. Visto como algo que não precisamos ter pressa para viver, quando na verdade o amor é como uma semente: você precisa cultivar, regar e cuidar para que possa crescer, fortificar , florescer e dar bons frutos. Frutos graúdos e de um gosto jamais conhecido. E saborear os frutos de um amor cuidado com tanta dedicação é simplesmente gratificante. Faz bem pro coração. Enriquece e dá sentido à vida. Não podemos ser negligentes ao ponto de não cuidarmos do nosso amor.

Amar um outro alguém é possível sim! Talvez não se equipare ao primeiro amor, e em alguns casos isto é até bom. Contato que as semelhanças sejam naquilo que nos fez bem, não vejo mal algum. Pois se trata de uma outra pessoa, uma outra vida, uma outra história por ser escrita por ambos os lados. Os dois precisam ser participantes ativo das linhas que vão descrever mais uma história de amor. E não falo de casinhos-de-balada, ficantes-de-carnaval ou amores-de-verão. Falo daqueles que nos conquistam pelas beiradas, que vão nos conquistando aos poucos, dando brilho e um novo sentido às nossas vidas e quando vemos já é amor. O amor não está limitado, não está padronizado, muito menos alterado. Nós é que sofremos estas limitações, nós é que temos essa mania de padronizar e rotular as coisas, os sentimentos. Nós é que adulteramos o amor! Tenho pra mim que precisamos cultivar as coisas boas de um relacionamento, ainda que ele tenha sido dissecado até virar lembranças. Temos que nos apegar aquilo que nos fez felizes, mas não podemos deixar que nos impeça de seguir com as nossas vidas. Ninguém ama (DE VERDADE) somente uma vez na vida! Muitos se apaixonam novamente pelo seu primeiro amor. Em outros casos o nosso verdadeiro amor é aquele que sucede ao primeiro. Amar alguém pela primeira vez não torna incapaz um segundo amor, assim como não torna o primeiro uma mentira. Não podemos comparar. Trata-se de outra pessoa, outros sorriso, outros olhos, outra vida, outra história, outro amor.

Reges Medeiros
Enviado por Reges Medeiros em 19/11/2012
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