Liberdade ou Democracia, um dia para se pensar
Sábado ao meio dia o sol estava quente. Ao abrir a janela de frente para rua vi um furdunço medonho. Era um corre corre, um vira e mexe. Muita gente agitada, que me deu na curiosidade de sair e ver o que estava acontecendo.
Perguntando para um transeunte, me dei conta de que erao dia da prova para o vestibular da Universidade Federal.
Uma fila de carros que encolhiam, um atrás do outro, caminhando de metro em metro. Parecendo uma imensa cobra grande.
Dentro dos automóveis, as pessoas pareciam estar em transe. Só um pensamento, só uma emoção.
Naquele imenso escacel chance para todos...
O vendedor de água; o vendedor de batatinha frita; o vendedor de bombons; o vendedor de caneta; o vendedor de laranja; os curiosos na janelas; os curiosos no portão; os taxistas e os ônibus que nem eram ofertados naquela direção.
O sangue estava quente, muitos jovens, os pais deixavam ao portão. Beijos, abraços e muita emoção... Seus filhos dando um passo rumo a libertação. Omoço no seu primeiro passo rumo a profissão, saindo das garras da super proteção da família.
De repente, no meio de todo aquele frisson, a chuva fina na calçada para aliviar a moçada; quando tudo parecia concreto, o portão anunciando o fechamento e a hora escaldando os corações... Um acidente de trânsito foi registrado.
Rapazes e moças, imbuídos num desespero de dar dó, em lágrimas, correndo para chegar antes que ficassem impossibilitados de entrar. Nesse instante, o clima começou a reesquentar, eram pessoas discutindo, eram pais e filhos chorando e nós, os ignorantes do bairro periférico, torcendo para que todos pudessem se firmar. Muitos vinham de outros Estados, muitos do interior; muitos vinha dos outros bairros; muitos vinham da periferia, saltavam dos ônibus sem almoçar; não tinham dinheiro, não tinham fortunas... Aquela era a oportunidade de mudar. O futuro começava ali, quem não conseguisse entrar era o mesmo que sepultar as esperanças de um ano de luta nos cursinhos; um tempo de dificuldades, de histórias tantas, que poderiam se frustrar. Fazer a prova do vestibular, um sonho, dentre muitas batalhas, que muitos jovens persseguem quase a vida inteira e mesmo quemavança, quem entra na Universidade, quando sai não encontra o seu lugar. Mas é uma odisseia, uma chance única na vida de qualquer pessoa de bom senso.
Naquele dia, ali na frente, ao ver aquele corre corre; ao ver pais e filhos; ao ver aquele mar de desespero; pessoas vendendo, pessoas se aproveitando, pessoas chegando atrasadas... Fiquei imaginando, o fim do mundo, que não cumpre com a sua missão diante de Deus; me veio na cabeça o sofrimento alheio. Se é justo ver o que vi, o quanto uma pessoa passa estudando o ano inteiro para chegar na hora nem conseguir adentrar para fazer a prova; o quanto dói, uma pessoa gastar quatro, cinco ou nove anos de sua vida e no fim de tudo nem conseguir encontrar o seu lugar aqui fora; bem como muitos que fazem as provas, porém nem conseguem a aprovação.
Se há injustiça, é só olhar a direção do sistema. Vivemos numa classe feita para se alimentar de problemas, muitos, como animais inveterados, se alimentam dos miseráveis, para se manter em Viena. Ainda não saímos do absolutismo. São reis; o clero, os nobres e povo envoltos numa agonia, chamada de Democracia, onde uns são privilegiados e muitos são da justiça dos homens, injustiçados numa República de iletrados. A pergunta fica nas minhas duvidas, quem ou o que, poderá deter esse monstro revolto, que é disfarçado de Estado, numa sociedade, que só visa o meu eu e depois você. Como se de todas asleis, a que mais se aplique, a que mais se desvencilhe do papel, mesmo nem tenha cadeira cativa na carta magna, é a lei de “Gerson”, ou seja, a lei do “farinha pouca o meu pirão primeiro”, a lei da vantagem individual, em detrimento do coletivo.
O que me causou comoção, foi que ao ver a chuva chover, caindo de felicidade, sem qualquer maldade,para engravidar a terra, onde pássaros aviltados de inspirações inventavam várias versões para dizer vida, as flores agradecidas diziam, sem ninguém perguntar, aquilo que a gente mesmo velho custa a enxergar... O nosso mundo, não pode ser isolado, pois vive num quintal de dependênciaindissociável. A minha árvore, depende do seu rio, que depende do seu sol, que depende dos seus pássaros, que depende dos seus pés, que depende da sua terra, que depende, depende de nós.