Pássaro na mão
Sinto que perdi meu passarinho. Porque o amor é como um pássaro na mão. Claro, mais vale do que dois voando, mas não é a isso que me refiro. O amor é frágil, delicado e pode bater as asas. Se a gente aperta demais, esmaga-o, afoga-o, acaba por matá-lo. Se a gente deixa a mão meio aberta, ele foge.
Não fui eu que fugi nem morri. Porque gosto de amores sufocantemente ciumentos e, mesmo que deixarem escapar, não voarei. Prefiro ficar mesmo pousado na mão que alimenta a minha alma apaixonada.
Por outro lado, ao fazer o que aprendi ao longo dos anos de vida, acabei perdendo o meu passarinho. Por não apertá-lo muito forte junto a mim, ele pensou que eu não o amava o suficiente. E ao mesmo tempo, por não deixá-lo totalmente livre, talvez tenha imaginado que eu queria apenas prendê-lo, por um motivo ou outro qualquer.
Descobri então que esses passarinhos são também de cristal. Se a gente sem querer num momento de descuido o aperta além da conta, ele trinca, esfacela-se irremediavelmente. Os cacos colados jamais voltarão a ser como o original. Porém, também não adianta segurá-lo com a mão frouxa, porque pode cair e da mesma forma quebrar-se no chão.
É preciso guardar bem o passarinho de cristal. Cuidar dele com todo amor, carinho e atenção. Segurar com as duas mãos e com os olhos, ou seja, com carinho e atenção. Porque os passarinhos voam pelos caminhos do coração, e esses geralmente não têm volta. É preciso voar junto.
(Catalão, 16/11/2012)