O GOSTO AMARGO DA TRAIÇÃO
Outro dia eu vi uma mocinha chorando copiosamente. Mesmo não sendo curioso (mas o fato de ser observador me fez ver a cena), eu não me contive e perguntei a pessoa ao lado dela, o porquê daquele choro tão intenso e, aparentemente, doído demais. A pessoa que estava ao lado da jovem, aparando-a, consolando-a, tentando convencê-la a parar com o pranto, me disse que, todo aquele cenário de desespero, toda a angústia daquela jovem era causada pela cruel e fria dor de uma traição.
Parei, então, para olhar aquela moça. Vi, naquele momento, uma jovem muito bonita – mas descontrolada – que se encontrava no limite de suas forças e, em especial, de seu controle emocional. O desespero era tanto que o soluço, que era, no início, intermitente, agora soava como uma rajada de uma arma automática, disparada sem descanso e com um agravante: no caso dela as balas nunca acabavam.
- Como foi isso? – perguntei cada vez mais interessado pela cena.
- Ela está noiva. Hoje, ao sair com o seu futuro esposo, ela, como quem não quer nada, mas querendo – e já desconfiada de que estava sendo traída -, deu uma olhada na caixa de mensagens do celular do seu noivo e encontrou, “acidentalmente”, uma mensagem de cunho amoroso deixada por uma suposta amante. É claro que não precisou de muitas explicações para que tudo desaguasse nisso que você está vendo, disse a senhora que amparava a inconsolável senhorita.
- Entendo, respondi. Fiquei olhando, em seguida – mas sem ver a moça a frente –, o retrato de minha mente projetada além do que a realidade daquele momento me mostrava. Pensei: só existe a traição se, em primeiro lugar, houver a confiança depositada – num ou noutro – no relacionamento. Esse estado chamado, num relacionamento, de compromisso entre os pares, é, também, uma linha muito tênue entre a certeza desse acordo entre eles e a facilidade com que o “ficar” impõe a essa cultura do tudo pode e nada é errado. Desta forma, o deslize acontece – às vezes mais de uma vez -, embora o arrependimento, na maioria das ocasiões, seja mais rápido que a motivação que levou a isso, e tudo acabe, mediante o perdão, ao início desse mesmo compromisso.
Contudo – continuei com as minhas imagens projetadas como se fossem livros em que as linhas, automaticamente, estivessem sendo apresentadas –, quando isso ocorre, mesmo que não queiramos duas coisas primordiais, para que um relacionamento se fortaleça ainda mais, deixam de existirem: a confiança que será substituída, dali para frente, pela dúvida e, o sentimento pleno – gerado pelo desejo e pela paixão – poderá a vir a ser substituído por novas experiências sentimentais, já que o novo quando consentido e perdoado uma vez, passa a ser visto como promessa de repetição e, consequentemente, como esperança de, desta vez encontrei o que procurava. Dificilmente se encontra o que se procura quando procuramos fora daquilo que se entende por respeito e caráter. Então, mais uma vez, o armistício estará presente no momento do arrependimento.
Balancei a cabeça e olhei, agora, diretamente para o rosto molhado pelas lágrimas que desciam copiosamente pela face dela. Tentei enxergar em meio aquele desalento amoroso, se ela estava se perguntando “do porquê” de haver acontecido a traição. Será que seria ele realmente o culpado de ter havido uma traição ou se a traição veio em consequência de algo que já houvesse sido feito antes? Dizem que se há uma única traição num relacionamento, o culpado será sempre o outro; porém se houver mais de uma traição neste mesmo relacionamento, o culpado disto acontecer, seremos sempre nós. Será que a consciência daquela jovem estava tranquila com relação a essa máxima? Ou será que a traição, por parte do seu noivo, tenha sido dado, justamente, pelas experiências sentimentais que ela resolveu provar, mesmo que estas tenham sido apenas para dizimar qualquer dúvida com relação ao sentimento que nutria – porém, valendo-se do princípio de que só conhecemos a qualidade de algo quando o comparamos com um outro (embora o zelo pelo sentimento, em hipótese alguma, possa ser posto em comparação) e, em seguida, comprovando que estava errado, receba, como prêmio, o perdão.
É... Pode até ser assim, pensei. Mas, quando se tem uma joia rara em mãos, o melhor a fazer é cuidar para que ela esteja sempre bem polida e brilhosa. Não se testa uma joia riscando-a no chão para ver se ela é verdadeira. No máximo, leva-se ela ao joalheiro para que ele ateste a sua autenticidade.
No caso do amor, independente de quem tenha errado – e, pela expressão da moça, a traição com que fora atingida, jamais teria passado pela sua mente – o mais importante é nunca desvalorizar o sentimento que se nutre. Quando banalizamos o nosso querer, o mínimo que pode ocorrer, é de darmos condições ao outro de ele também experimentar a mesma fórmula e perceber, quando esta experiência não obtiver os resultados esperados, que voltar e ser recebido (como recebeu) de braços abertos, e perdoado, é o mínimo que a outra pessoa tem a fazer.
Obs. Imagem da Web
Outro dia eu vi uma mocinha chorando copiosamente. Mesmo não sendo curioso (mas o fato de ser observador me fez ver a cena), eu não me contive e perguntei a pessoa ao lado dela, o porquê daquele choro tão intenso e, aparentemente, doído demais. A pessoa que estava ao lado da jovem, aparando-a, consolando-a, tentando convencê-la a parar com o pranto, me disse que, todo aquele cenário de desespero, toda a angústia daquela jovem era causada pela cruel e fria dor de uma traição.
Parei, então, para olhar aquela moça. Vi, naquele momento, uma jovem muito bonita – mas descontrolada – que se encontrava no limite de suas forças e, em especial, de seu controle emocional. O desespero era tanto que o soluço, que era, no início, intermitente, agora soava como uma rajada de uma arma automática, disparada sem descanso e com um agravante: no caso dela as balas nunca acabavam.
- Como foi isso? – perguntei cada vez mais interessado pela cena.
- Ela está noiva. Hoje, ao sair com o seu futuro esposo, ela, como quem não quer nada, mas querendo – e já desconfiada de que estava sendo traída -, deu uma olhada na caixa de mensagens do celular do seu noivo e encontrou, “acidentalmente”, uma mensagem de cunho amoroso deixada por uma suposta amante. É claro que não precisou de muitas explicações para que tudo desaguasse nisso que você está vendo, disse a senhora que amparava a inconsolável senhorita.
- Entendo, respondi. Fiquei olhando, em seguida – mas sem ver a moça a frente –, o retrato de minha mente projetada além do que a realidade daquele momento me mostrava. Pensei: só existe a traição se, em primeiro lugar, houver a confiança depositada – num ou noutro – no relacionamento. Esse estado chamado, num relacionamento, de compromisso entre os pares, é, também, uma linha muito tênue entre a certeza desse acordo entre eles e a facilidade com que o “ficar” impõe a essa cultura do tudo pode e nada é errado. Desta forma, o deslize acontece – às vezes mais de uma vez -, embora o arrependimento, na maioria das ocasiões, seja mais rápido que a motivação que levou a isso, e tudo acabe, mediante o perdão, ao início desse mesmo compromisso.
Contudo – continuei com as minhas imagens projetadas como se fossem livros em que as linhas, automaticamente, estivessem sendo apresentadas –, quando isso ocorre, mesmo que não queiramos duas coisas primordiais, para que um relacionamento se fortaleça ainda mais, deixam de existirem: a confiança que será substituída, dali para frente, pela dúvida e, o sentimento pleno – gerado pelo desejo e pela paixão – poderá a vir a ser substituído por novas experiências sentimentais, já que o novo quando consentido e perdoado uma vez, passa a ser visto como promessa de repetição e, consequentemente, como esperança de, desta vez encontrei o que procurava. Dificilmente se encontra o que se procura quando procuramos fora daquilo que se entende por respeito e caráter. Então, mais uma vez, o armistício estará presente no momento do arrependimento.
Balancei a cabeça e olhei, agora, diretamente para o rosto molhado pelas lágrimas que desciam copiosamente pela face dela. Tentei enxergar em meio aquele desalento amoroso, se ela estava se perguntando “do porquê” de haver acontecido a traição. Será que seria ele realmente o culpado de ter havido uma traição ou se a traição veio em consequência de algo que já houvesse sido feito antes? Dizem que se há uma única traição num relacionamento, o culpado será sempre o outro; porém se houver mais de uma traição neste mesmo relacionamento, o culpado disto acontecer, seremos sempre nós. Será que a consciência daquela jovem estava tranquila com relação a essa máxima? Ou será que a traição, por parte do seu noivo, tenha sido dado, justamente, pelas experiências sentimentais que ela resolveu provar, mesmo que estas tenham sido apenas para dizimar qualquer dúvida com relação ao sentimento que nutria – porém, valendo-se do princípio de que só conhecemos a qualidade de algo quando o comparamos com um outro (embora o zelo pelo sentimento, em hipótese alguma, possa ser posto em comparação) e, em seguida, comprovando que estava errado, receba, como prêmio, o perdão.
É... Pode até ser assim, pensei. Mas, quando se tem uma joia rara em mãos, o melhor a fazer é cuidar para que ela esteja sempre bem polida e brilhosa. Não se testa uma joia riscando-a no chão para ver se ela é verdadeira. No máximo, leva-se ela ao joalheiro para que ele ateste a sua autenticidade.
No caso do amor, independente de quem tenha errado – e, pela expressão da moça, a traição com que fora atingida, jamais teria passado pela sua mente – o mais importante é nunca desvalorizar o sentimento que se nutre. Quando banalizamos o nosso querer, o mínimo que pode ocorrer, é de darmos condições ao outro de ele também experimentar a mesma fórmula e perceber, quando esta experiência não obtiver os resultados esperados, que voltar e ser recebido (como recebeu) de braços abertos, e perdoado, é o mínimo que a outra pessoa tem a fazer.
Obs. Imagem da Web