Diário de Sonhos - #012: A Forma Preta
Ontem fui dormir às 4h da manhã e acordei hoje às 21h. Tive muitos sonhos confusos, estranhos. Alguns meio assustadores, outros bobos. Escrevo aqui o que consigo lembrar destes sonhos, com o mínimo de interferência possível do meu consciente.
Sonhei que estava num grande prédio, parecia um shopping center ou hotel luxuoso, algo assim. A iluminação era amarelo-alaranjado, o chão xadrez com losangos marrom e marfim. Havia colunas em estilo jônio, o teto dos corredores era em arco. Era uma área retangular, sendo que no centro ficava a escadaria, feita de madeira, e o piso circundado-a. Não lembro muito bem sobre as paredes, mas havia quadros e eram creme. Havia bancos de madeira e as portas também eram de madeira, com maçanetas redondas e douradas e uma plaquinha dourada em forma elíptica com o número do quarto. Sim, acho que era mesmo um hotel... Estava tudo muito silencioso e frio, algumas poucas pessoas passavam sem fazer barulho, como se fossem fantasmas. Vestiam sobretudos, paletós e vestidos negros.
Olhei para cima e a escada parecia subir infinitamente. Para baixo também. Resolvi descer. Quando cheguei no térreo, estava tudo alagado e escuro. A água batia nos meus tornozelos e apenas umas poucas velas iluminavam o lugar. Ouvi alguém chorando e segui. Era uma menina, devia ter uns 11 anos. Ela disse que queria a mãe e eu peguei na mão dela e fomos procurar. Subimos vários andres e ela disse que morava ali. Entramos num quarto. Estava tudo muito escuro, havia apenas uma luz vermelha saindo do outro cômodo. A menina disse que a mãe estava presa lá. Entrei no quarto. Havia uma televisão bem antiga de onde saía uma luz vermelha. Fui mudando de canal. Então eu enxerguei atrás de mim, como se eu estivesse de pé bem a frente de mim mesmo. A menina começou a crescer e engordar, se transformando num ser monstruoso. Eu gritava pra que eu mesmo ouvisse e saísse correndo dali, mas não tinha força na voz. Não sei bem o que aconteceu aqui, ou não me lembro. Agora estou de frente pra mãe e filha na completa escuridão, elas estão extremamente pálidas. Sinto como se uma luz branca emanasse de suas peles. A mãe agradece por ter trazido sua filha. Eu digo que não precisa agradecer, ela me convida pra comer um lanche e tomar um suco. Enquanto ela fala, percebo que tanto ela como a filha começam a crescer e engordar por baixo da roupa. Me assusto e saio correndo.
Mais uma vez não sei o que acontece. Agora estou de volta ao piso central do hotel. Há dois corredores: o da direita está totalmente escuro, o da esquerda está totalmente bloqueado por neve. Me decido pelo da direita. Ando por algum tempo apalpando pela parede, e então vejo uma luzinha bem pequenina lá longe. A luz começa a se aproximar. Olho para o chão e vejo um trilho: estou sobre uma linha de trem. A luz vai ficando mais forte e começo a ouvir o ruído do motor. Corro na direção oposta mas o túnel para nunca acabar e sinto a luz e os sons mais fortes. Começo a chorar, grito por socorro. Não tenho coragem de encarar a luz. Ouço a buzina do trem. Me espremo contra a parede, mas o túnel é muito estreito. Vou morrer. Os pulmões de metal do trem esbravejam, a buzina estridente grita. Por mais que eu aperte os olhos a luz é tão forte que não posso evitá-la. Apesar de sempre ter cogitado sobre me drogar e me jogar na linha do trem, agora estou completamente apavorado e desejo que eu não tivesse feito isso.
Estou no saguão do hotel mais uma vez. No corredor da esquerda alguém cavou um túnel na neve. Entro sem pensar. Chego numa sala grande e luxuosa. Tem um candelabro no teto, cadeiras bonitas, uma mesa de jantar bem grande, uma lareira, quadros, armaduras medievais e tudo. Mas não há janelas. O lugar por onde eu vim também não existe, só uma parede. Mesmo a lareira estando acesa, não ouço absolutamente nada, é um silêncio completo. Reparo num quadro na parede mais oposta, uma pintura escura representando uma forma preta. Não consigo parar de olhar pro quadro. E então começa escorrer tinta preta, descendo pela parede até tocar no chão. Uma poça de tinta se forma. Lentamente algo começa a emergir da poça, como se fosse um pequeno monte. Percebo que é uma cabeça. Muito lentamente começa a emergir um ser humano. Primeiro a cabeça, e então os ombros, os braços, as mãos, as pernas e os pés. Não consigo ver olhos, boca, nariz, orelhas nem nada. É uma horrenda figura humanoide totalmente preta, sem expressão facial alguma. Ela fica ali, completamente parada, me encarando.
E então eu acordei...
Outro sonho que eu tive hoje consigo lembrar apenas alguns fragmentos. Eu estava numa espécia de cidade em ruínas no meio da mata. Homens me perseguiam e eu os matava com uma pistola. Se bem que pensando um pouco melhor, acho que eram zumbis. Não lembro nenhum tipo de deformação ou grunhido, só lembro que caminhavam estranho, como zumbis de filmes. E eram muitos.
Depois eu estava na casa de um amigo meu, o João. Ele tinha vários instrumentos musicais. Eu peguei uma guitarra Fender Jaguar e perguntei "cara, isso aqui é mesmo uma Fender Jaguar?". Ele disse que era. Perguntei se podia testar, mas ele falou que ia fazer uma pra mim. Pegamos um pedaço muito grande de madeira, desenhamos o formato da guitarra e começamos a cortar.
Lembro também de um céu muito estrelado, cheio de cores e luzes.