Morro da Conceição
No século XVII, durante as invasões holandesas em Pernambuco, o local passou a ser conhecido como “Monte Bagnuolo”, por ter sido ocupado pelo general italiano a serviço dos donatários da Capitania Duartina. O Conde Francisco de Bagnuolo, substituto de Matias de Albuquerque, no primeiro período batavo, idealizou uma fortificação próxima ao antigo Arraial Velho do Bom Jesus, que não chegou a ser construída.
Posteriormente, já no início do século vinte, a localidade foi chamada de “Morro da Bela Vista”, passando a pertencer à Freguesia do Poço da Panela, depois do Arraial e, posteriormente, à de Casa Amarela, de quem se desligou após a nova modificação urbana em 1988, que dividiu a cidade em 94 bairros.
Em 08 de dezembro de 1904, há portanto mais de um século, por iniciativa do Arcebispo Dom Luiz (Vide Largo Dom Luiz) Raimundo Brito, mandou erigir um monumento à imagem da Imaculada Conceição, construída na França. A obra é de autoria do engenheiro Lafayette Bandeira e mede cinco metros e meio de altura, pesando 1806 Kg, com coroamento, todo em estilo gótico.
Uma outra curiosidade é que a imagem de Nossa Senhora da Conceição procede da Europa e veio do cais do porto para o sopé do então Morro da Bela Vista em um vagão de trem pela linha férrea Norte (hoje Av. Norte, Miguel Arraes de Alencar). A mesma foi conduzida,festivamente, até o alto do Morro nos ombros dos marinheiros e estivadores das Docas, acompanhada pelo povo e autoridades.
A partir dos anos 30 do século 20, os morros passaram a serem vistos como áreas propícias para a ocupação por pessoas de baixa renda, que estavam sendo expulsas do centro da cidade.Entre as décadas de 30 e 40, o governo promoveu a remoção de mocambos que ocupavam os mangues do centro da cidade e, conseqüentemente, essa população foi transferida para os morros da zona norte, até então subocupados.
Um fator importante para a ocupação dos arredores da Av. Norte foi a Feira de Casa Amarela. Muitos feirantes vieram do interior do Estado e passaram a morar nos morros, sobretudo no Morro da Conceição, como também a Fábrica de Tecidos Othon, mais conhecida por Fábrica da Macaxeira. Esta instalou-se no início do século 20 às margens da Estrada de Ferro do Limoeiro devido à facilidade de transportes de mercadorias e matéria-prima.
As ruas e ladeiras do Morro foram calçadas em 1960. A água era fornecida por um chafariz e bombeada da Rua Palmitos (Antiga Rua do Motor). Lembro que o pessoal do Morro ia buscar água num cacimbão que havia perto da casa onde eu nasci e do campo do Ipiranga. A água era salobra e hoje o abastecimento é regular e próprio para o consumo humano.
As lembranças me fazem transportar no tempo e recordar com saudade dos clubes dançantes que haviam no Morro da Conceição e que eram mantidos pelos vereadores “Rui Alves” (hoje Escola de Samba Cultural Galeria do Ritmo), “Roberval Lins” e “Romildo Gomes”. Existiram outras escolas de samba como a Leão do Norte e Unidos do Dendê (ambas extintas). Atualmente, o Morro só tem dois clubes: Acadêmico e Galeria do Ritmo, que divertem a comunidade e visitantes.
Sou testemunha ocular de que em 1959 aconteceu uma tragédia na comemoração da festa da Padroeira do Morro. Às 4 horas da manhã, quando se iniciava a celebração da missa pelo então pároco da paróquia do Bom Jesus do Arraial, Monsenhor Teobaldo de Souza Rocha, houve um curto-circuito nas gambiarras das barracas e nos brinquedos da quermesse, provocando uma correria entre as pessoas, que pensavam tratar-se de tiros de arma de fogo, o que resultou em inúmeras pessoas acidentadas e falecimento de 12 fiéis. Depois da tragédia, o Arcebispo de Olinda e Recife empenhou-se junto às autoridades para a festa profana ser transferida para os campos do Ipiranga e Canto da Vila. Hoje, ela se estende para a Praça do Trabalho e Largo D. Luiz.
Até 1974 o Morro da Conceição pertencia ao bairro de Casa Amarela. Em 1988, com a reestruturação dos bairros do Recife, foi elevado à categoria de bairro.
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