Evângelica Homofóbica
Marcela arrota enquanto limpa o moletom preto que acabara de se manchar com a maionese caseira que escorreu do seu hot dog. Marcela bebe coca no bico da garrafa, com preguiça de pegar um copo. Perde dias e noites vendo TV e engordando cada vez mais. Sofre de depressão, logicamente devido ao seu sedentarismo.
Tem amores platônicos por personagens das novelas globais, tem dificuldade na escola, é antissocial, e vive misturada entre os fios dos aparelhos eletrônicos que carregam na tomada próxima a sua cama.
Mora praticamente sozinha, sua mãe é enfermeira e costuma preferir trabalhar à noite para não ter que ver sua própria filha. Marcela durante o dia fica na escola, ela não tem diálogo em casa, muito menos no colégio. Seu diálogo é a TV! Também não gosta de internet. Acha-se feia. Sua foto no Facebook é de uma personagem fake. Também sabe falar pouco sobre qualquer assunto e possuí erros ortográficos fortes que doem o cérebro. Ninguém tem interesse em conversar com ela.
É evangélica, odeia homossexuais, odeia roupas curtas, mas nas escuras gosta de se masturbar enquanto se lembra dos galãs da novela. Após o ato, costuma ajoelhar-se no chão em cima de alfinetes virados com as pontas para cima, fincando em seu joelho para “pagar” o pecado.
Marcela também é racista e quando vê negros pela rua troca de calçada. Se um negro senta próximo a ela, subitamente ela troca de lugar. Nas terças à noite vai ao culto e se sente limpa, volta pra casa, mas não se masturba. Terça é dia sagrado, adormece com vontade.
É interrompida com um barulho muito forte. “Parece tiro” - Pensou ela. Quando abre a porta do apartamento e olha as escadas vê um casal de homossexuais assassinados. Neste instante faz o sinal santo e da um sorriso até a orelha. “menos um, ops, dois”. Pensa ela. Volta a dormir com consciência limpa, alma pura, digna, e devota.
Sua certeza de bondade era fixa, mesmo com toda mesquinharia e maluquice que habitava o seu ser.