O MARTELO E O PREGO
O funcionário X da empresa Y é despedido no seu centésimo dia de trabalho. O ocorrido causou grande surpresa e comoção entre os demais funcionários, visto que o que se falava até então é que esse funcionário vinha executando um excelente trabalho. Para haver alguma explicação sobre o ocorrido, começou-se a repetir nos corredores o seguinte ditado popular: Prego que se destaca é martelado!
Foi a primeira vez que conheci esse ditado e ele começou a martelar – me perdoem, mas não pude resistir usar tão óbvia colocação - minha cabeça desde então. Entendo que os ditados populares - ou provérbios como queiram – traduzem a sabedoria acumulada pelos homens no decorrer de anos. Por regra, esses preceitos se acomodam docemente em meu cérebro, para serem acessados em algum momento necessário. Se esse teimava não aceitar gaveta alguma, é porque ou não era provido de sabedoria ou conflitava com outro ensinamento guardado.
Depois de muito pensar, concluí que a segunda hipótese era a correta. Outro preceito, há muito assimilado, de que no final o bem sempre prevalece, impedia-me de aceitar esse novo provérbio. Um deles teria de ser eliminado.
Seria um tronco oco se deixasse de acreditar que o bem sempre triunfa ao final e que, no presente caso, o martelo é mau e o prego é bom. E tombaria de vez ao chão se também deixasse de fazer sempre o meu melhor para não me destacar e correr o risco de ouvir o zunido do tal martelo em minha direção. Se era esse o preço, pois que viessem as marteladas!
Deste modo, não me restaria outra alternativa que não fosse eliminar o tal ditado, por não trazer um ensinamento que quisesse assimilar. Antes disso, porém, me dei conta de que apenas lhe falava um complemento. Então ficou assim o tal ditado: Prego que se destaca é martelado. PORÉM QUEM MUITO MARTELA UM DIA ACERTA O PRÓPRIO DEDO.
Pronto. Finalmente o ditado aceitou entrar em uma gaveta juntamente com os demais e pude voltar a dormir em paz.