A arte dos conflitos
Hoje levantei morrendo de fome, minha barriga parecia não ter fundo (se é que tem), tudo que eu via, queria comer: carro, poste, lâmpadas, árvores e, por que não, os abacaxis?
Estamos cada vez mais obtusos. Parece que o “comer” passou a ser algo mecânico, sem qualidade e com inúmeros defeitos. O arroz, a batata, o tomate, o pepino, a carne, a água, tudo passa pelo nosso corpo como se fossem alimentos de segunda categoria. Mas, por outro lado, nós, os homens, estamos ruminando as preocupações, as angústias, as dores e os raios ultravioletas sem nenhum controle de qualidade. Além do mais não temos tempo para coisas pequenas como amar e sonhar.
Hoje fiquei sabendo que minha perna está doente, que o meu colesterol está alto, mas quando tudo isso ia bem, essas picuinhas passavam até despercebidas, não sentia sequer as batidas do meu coração e, menos ainda a morte das bezerras.
Olha só! A lua caiu no meu quintal, derrubou a única árvore que eu tinha, agora sou um homem desgalhado. Grito ninguém escuta, se choro você ri, ando e não vejo minha própria sombra.
É possível que eu seja uma hiena, pois o que tenho digerido diariamente são as pessoas, elas estão podres.