Obrigado?
Um pirralho me pede dinheiro.
Dou.
Não ouço obrigado mas respondo de nada.
Outro meninote me implora trocado.
Dou.
E novamente respondo de nada sem ouvir obrigado.
Um, menor ainda, a mesma coisa.
Dou. Adivinha?
É isso mesmo! Não escuto obrigado, mas respondo de nada.
Mas os três ficaram felizes;
Seus olhos brilharam diante do presente.
Balas, brinquedo, comida compraram.
Um, agora aparentando 13 anos, me pede dinheiro.
É sempre a mesma história. Mas dou.
- Obrigado! – ele fala.
Levo um choque, não respondo de nada.
E o menino sai correndo levando o seu ducado.
Mas eu ficaria mais feliz se ele não tivesse falado obrigado.
- Estou ficando louco?
- Não. Estou arrasado!
Pois passou por mim, cheirando à cachaça e com um cigarro na boca, o menino educado.
(Belo Horizonte, 1990)