CAMPANHA E TERAPIA NOS CORREDORES DO FÓRUM
Ysolda Cabral
Não terminei meu curso de Direito, mas agora dei pra viver pelos corredores do Fórum Des. Rodolfo Aureliano. Pense num Fórum bonito! Desta feita na condição de testemunha num Processo de Pensão Alimentícia. A audiência estava marcada para as 15h:15m. Chegamos com uma hora de antecedência e nos sentamos próximos a 10ª Vara de Família. Eu, a autora do Processo, seu advogado e uma outra testemunha. A conversa fluía sobre a pensão pretendida, quando o ‘’nosso’’ advogado foi abruptamente interrompido por um colega, o qual nos chegou ‘’soltando fogo pelas ventas. ’’
Num elegante terno, com uma espécie de broche na lapela - eu disse broche, adereço - reclamava da falta de seriedade nas questões do direito dentro da própria justiça e ameaçava levar sua indignação até a Corregedoria, se preciso fosse.
Fiquei a olhar para ele pensando se não estava exagerando, valorizando demais uma coisinha à toa... E, como estávamos no corredor, ele só parava com as reclamações quando passava por nós algum possível eleitor, uma vez que, está candidato à vaga de conselheiro, na chapa para presidência da OAB, nas próximas eleições. Contudo, apesar de todo o seu empenho, entusiasmo, carisma e do lindo ‘’broche de campanha,’’ não o vi angariar nenhum voto. O pessoal se desculpava e dizia já ter optado pela outra chapa e ia embora.
- Aquele não era, decididamente, o seu dia! Pensei com meus botões.
Naturalmente, não se dava por vencido e sem se exceder nas ‘’súplicas de convencimento’’ logo mudava o assunto e voltava à conversa anterior já cansativa, de tão repetitiva. Numa das vezes, ao mostrar o tal broche, pomposamente pousado na sua lapela esquerda, para o possível eleitor, escutou-se um retumbar. Não era do ‘’tambor do encantado’’ este, só se estivéssemos o auscultando.
Percebendo nossa curiosidade, mais que depressa sacou o objeto, de percussão discretíssima, do bolso do seu blazer, de lorde dinamarquês, nos mostrando que a percussão vinha na verdade de uma pequena ‘’marmita de medicamentos,’’ prescritos pela sua mãe médica.
A testemunha,enfermeira Ana-Nery, de imediato lhe perguntou que remédios eram aqueles.
Parando com as queixas e ameaças, relativas ao atendimento no Fórum; da campanha eleitoral OAB e de tudo o mais, nos contou que sua taxa de glicose estava nas alturas e disse o quanto.
A experiente e gentil profissional, querendo lhe acalmar, disse que sua taxa nem estava tão alta assim e, se ele tomasse os medicamentos direitinho, parando com os doces e refrigerantes, logo estaria bem.
Ele, muito naturalmente e de supetão, lhe perguntou se estava correndo o risco de ficar ‘’brocha’’ posto que, alguém havia lhe advertido para esta possibilidade. Disse, ainda, ter perguntado à mãe, mas como mãe é mãe, não estava levando muita fé no seu esclarecimento.
Foi ele falando e o ‘’nosso’’ advogado, dando um pulo pra longe dele.
- Vai que isso pega. Esclareceu!
A essas alturas, eu que já rio por tudo, estava a ponto de cair em pleno corredor de tanto rir. A enfermeira testemunha, sem saber se ele falava sério, avaliava a resposta. A autora do processo, de tão aflita não acompanhava muito bem o drama ali colocado, a análise em andamento, sem sofá e num corredor de um Fórum, mas não um Fórum qualquer, um bem bonito e pomposo. E, o nosso advogado, que de besta não tem nada, mantinha-se a distância de pura gozação.
Neste momento deu-se a desgraça maior e/ou esclarecedora: passou por a gente um garçom empurrando um carrinho repleto de doces reluzentes, bolos e tortas de toda qualidade, bem como coca-cola ''normal e anormal.''
O advogado, espreitado pelo maldito Diabetes, se desinteressou totalmente das considerações e/ou esclarecimentos relativos à sua masculinidade, os quais sua interlocutora poderia lhe proporcionar e, literalmente babando, não avançou nos sedutores bolos e doces por muito pouco.
Foi quando escutamos outro transeunte, o qual se aproximava do lado contrário, começar a cantar ‘’ Segura na mão de Deus, Segura na mão de Deus, só assim não cairás em tentação, ão, ão, ão... Risos homéricos fizeram o refrão...
Pois é! Fatos que a vida inventa de contar bem no meu nariz.
É mole?