Muitas vezes ele vem e a gente nem sabe

Certa noite este viera me visitar, pegara-me sorrateiramente de chinelos havaianas brancos e uma bermuda jeans azul, jogado no sofá a aquela altura da noite me peguei a imaginar quem seria a bater em minha porta, olhei pelo olho mágico e vi uma personalidade o quanto inusitada, um ser de roupas coloridas, olhar brilhante e sereno como se repousasse longe... De uma idade já avançada, porem difícil de determinar, sou péssimo em adivinhar idade então nem vou me arriscar! Prefiro dizer que era um ser que aparentava a calma dos sábios e mansuetude dos pacíficos. Abri a porta vagarosamente e mostrei apenas meu rosto um pouco desconfiado, aliás já eram meia noite de uma quinta feira, ele me olhou no fundo dos olhos de uma forma como se me conhecesse de outros tempos. Sem saber por que apenas sabia que meu coração não via nele uma ameaça, ele sorriu e sussurrou meu nome, fiquei espantado por não reconhecer aquela personalidade que sabia até meu nome, então o convidei para entrar... perguntei então se ele gostaria de tomar algo e este apenas balançou a cabeça mostrando-se satisfeito, peguei para mim uma lata de schweppes Citrus e juntos sentamos na varanda naquela madrugada quente e estrelada.

A curiosidade já me corroia por dentro então lhe perguntei o que fazia pelo bairro, e de onde me conhecia já que jurava nunca tê-lo visto antes. Dei um longo gole na minha bebida tentando saciar meus anseios! Ato falho e em vão, o ser de vestes adversas apenas me olhou e esboçou outro sorriso e então disse – Vou te contar uma história filho:

- Num tempo muito distante desse onde havia tempo para se reparar no azul do céu, sentar-se embaixo de uma árvore frondosa e se dedicar um pouco a si, havia um jovem assim como você, que desejava conhecer, questionava o mundo, filosofava, e divertia-se a observar as diferentes personalidades que cruzavam seu caminho! Sorridente e calmo se interessava em conhecer as pessoas em seu particular, longe de tudo que pudesse parecer modelo, ele adorava seres originais, porem algo inquietava sua alma, era o amor! Ele não compreendia a dimensão deste sentimento, nem sua forma, nem como de fato expressa-lo, por anos investiu longo tempo em pesquisas, em busca de um conhecimento palpável e afastando-se do verdadeiro sentido que a palavra AMOR abarca. E depois de longos anos quando já havia desistido de provar a existência e a dimensão do sentimento ele se sentou a beira de um lago, deixou seus pés tocarem levemente aquela água refrescante e logo em seguida deu um tapa na água, e percebeu que seu reflexo se alterava e sob a água formavam ondas que iam propagando o impacto da força do seu sentimento naquele momento ate sumir e tudo voltar a ser o que era. Então ele refletiu por horas aquele ato, entendeu que o amor não era diferente, o amor vem em ondas, nos transforma e muda nossa aparência externa e principalmente interna, depois se adere a nós e se expande para tudo que há a nossa volta! Somente aquele que se desprende da razão do ser, e mergulha em si compreende de fato a dimensão de um sentimento tão forte. O rapaz sentiu-se leve! Sorriu pela sabia percepção e amadurecimento que tivera naquele instante.

De repente dei um grande salto!, havia adormecido na varanda e já eram 2horas da madrugada, a latinha de Citrus vazia e nenhum sinal daquele ser distinto, porém não havia dúvidas e eu sabia dentro de mim que naquela madrugada o amor viera me visitar e me ensinar um pouco mais sobre tudo que ele abrange! Que seus olhos não se prendam apenas ao que enxergas, permita-se ir além ....

Kemii Athon
Enviado por Kemii Athon em 14/11/2012
Código do texto: T3985607
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