CONTANDO DA FELICIDADE
Por Carlos Sena
Eu vou lhe contar que sou feliz, mas eu preciso lhe dizer que ser feliz não é barato e seu alto preço não se paga com dinheiro. Eu vou lhe dizer que sou feliz, mas eu preciso lhe dizer que a felicidade resulta de dor e sacrifício embora não devesse. Porque a gente nasce e é obrigado conviver com valores que outros nos impuseram e com sentimentos de amor e ódio equivocados pela inversão desses valores. Por isto eu preciso e sinto necessidade de lhe dizer que sou feliz. Assim, sendo como sou. Assim sendo como você não é. Assim como todos são e não são ao mesmo tempo. Simplesmente assim eu sou feliz e, por isto, faço questão de me reincidir nesse farfalhar que lhe conto. Porque quando eu lhe conto que sou feliz eu quero te assegurar também esse direito de ser feliz sendo diferente de mim.
Eu vou lhe contar que sou feliz sem que nada de extrordinario esteja acontecendo comigo. Achando graça num pássaro que habita o buraco vazio do meu ar condicionado; curtindo quando, em pleno dia de sol, vem uma chuva de verão e muda tudo e molha todos; rindo a toa, passando para quem me vê o sentimento de que sou louco por estar rindo sozinho; fazendo pipoca em casa numa tarde de domingo vendo um filme bobo que não me obrigue a intelectualização do meu lazer; lendo cartas de amor guardadas no baú só pra não esquecer que houve um tempo em que se escreviam cartas de amor, como disse o poeta: ridículas; saindo pelas ruas a esmo, para descobrir as surpresas que os caminhos desconhecidos facultam; recordar os barquinhos de papel que a gente fazia nos tempos de escola e se surpreender por ter esquecido como fazê-los depois de adultos; ficar na janela de casa vendo o dia correndo atrás de si mesmo, qual “Carolina que o tempo passou na janela e só ela não viu”; enfim, beijando na boca de quem amo, batendo na porta de quem não chamo, ouvindo a musica que me der na “telha”, escrever contos eróticos ou poesias santas que denunciem meus infernos existenciais...
Assim, contando a você que sou feliz, quero ver quem diz também assim ser – do seu jeito, do seu modo, do seu matiz, do seu tom, do seu ba-tom, do seu marrom glacê, da sua Elba, da sua Beyonce. E, em assim sendo, o preço caro de ser feliz num mundo machista, falso moralista, faz a vida ficar maio zen pela certeza de que o plural da vida só se consolida na singularidade do amor e do respeito aos quereres coletivos.
Sou feliz. Não preciso mais contar.
Por Carlos Sena
Eu vou lhe contar que sou feliz, mas eu preciso lhe dizer que ser feliz não é barato e seu alto preço não se paga com dinheiro. Eu vou lhe dizer que sou feliz, mas eu preciso lhe dizer que a felicidade resulta de dor e sacrifício embora não devesse. Porque a gente nasce e é obrigado conviver com valores que outros nos impuseram e com sentimentos de amor e ódio equivocados pela inversão desses valores. Por isto eu preciso e sinto necessidade de lhe dizer que sou feliz. Assim, sendo como sou. Assim sendo como você não é. Assim como todos são e não são ao mesmo tempo. Simplesmente assim eu sou feliz e, por isto, faço questão de me reincidir nesse farfalhar que lhe conto. Porque quando eu lhe conto que sou feliz eu quero te assegurar também esse direito de ser feliz sendo diferente de mim.
Eu vou lhe contar que sou feliz sem que nada de extrordinario esteja acontecendo comigo. Achando graça num pássaro que habita o buraco vazio do meu ar condicionado; curtindo quando, em pleno dia de sol, vem uma chuva de verão e muda tudo e molha todos; rindo a toa, passando para quem me vê o sentimento de que sou louco por estar rindo sozinho; fazendo pipoca em casa numa tarde de domingo vendo um filme bobo que não me obrigue a intelectualização do meu lazer; lendo cartas de amor guardadas no baú só pra não esquecer que houve um tempo em que se escreviam cartas de amor, como disse o poeta: ridículas; saindo pelas ruas a esmo, para descobrir as surpresas que os caminhos desconhecidos facultam; recordar os barquinhos de papel que a gente fazia nos tempos de escola e se surpreender por ter esquecido como fazê-los depois de adultos; ficar na janela de casa vendo o dia correndo atrás de si mesmo, qual “Carolina que o tempo passou na janela e só ela não viu”; enfim, beijando na boca de quem amo, batendo na porta de quem não chamo, ouvindo a musica que me der na “telha”, escrever contos eróticos ou poesias santas que denunciem meus infernos existenciais...
Assim, contando a você que sou feliz, quero ver quem diz também assim ser – do seu jeito, do seu modo, do seu matiz, do seu tom, do seu ba-tom, do seu marrom glacê, da sua Elba, da sua Beyonce. E, em assim sendo, o preço caro de ser feliz num mundo machista, falso moralista, faz a vida ficar maio zen pela certeza de que o plural da vida só se consolida na singularidade do amor e do respeito aos quereres coletivos.
Sou feliz. Não preciso mais contar.