[Outra crônica sobre o tempo: Extraio-me do Ontem!]
por Carlos Rodolfo Stopa, Terça, 13 de novembro de 2012 às 19:25 ·
Outra vez, novembro já pelo meio... Chuva, chuva mansa, por enquanto... E quando chove, a noção de distância avulta, tudo fica mais longe, e uma angústia de perda toma conta do olhar!
Em instantes assim, torna-se impossível não meditar sobre a efemeridade das coisas; tudo se esvazia, torna-se difuso, como se uma neblina anulasse a forma precisa dos objetos... Até o velho baú de bálsamo carregado de lembranças — fotos de gente morta, de gente viva, velhas cartas, poemas do meu pai — que, nos dias chuvosos, me conduziu a tantas viagens durante toda a minha infância, agora, viaja, perdido de mim, nalguma trajetória do espaço-tempo! Nada posso dizer, nada posso fazer, nem posso contar com um benfazejo esquecimento... As nossas linhas de universo não mais permitirão que nos contemplemos outra vez.
Também as linhas de universo de certas pessoas jamais voltarão tangenciar a minha trajetória, embora a separação imposta pela vida não nos possa lançar fora do majestoso cone de luz do Futuro...
Canso-me, canso-me dessa imperiosa determinação de ter que ir sempre em frente, sempre, sempre... Tenho de assistir, lúcido, à minha própria passagem! E tenho de compreender esta noção de que, vivo, o meu ser que se extrai do Ontem, e jamais se repete no tempo: sou outro a cada instante que me escapa, mas, obstinado, agarro-me a mentiras do espelho!
Sim, a cada dia eu sou outro, a cada dia eu me extraio do ser que ontem fui. Que ninguém me fale em Futuro senão como uma variável da Física... A uma pessoa que se sabe um “ser para extinção”, para ser apagado como um pequeno borrão da face da Terra — não se deve falar em Futuro! Ser de possibilidades sim, mas para já, sem esperas!
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[Penas do Desterro, 13 novembro de 2012]