Um Louco e a Orelha de Van Gogh
Falar sobre os grandes nomes não é difícil. Dissertar sobre as façanhas dos vencedores aguça e enobrece a cultura. Todos os dias os Jornais nos trazem sobre prismas inspirados dos cronistas lembranças dos eternos vultos, com citações belíssimas de grande significância. Erasmo de Roterdam no seu Elogio da Loucura, pressentindo que sofreria sátiras ao que se propunha escreveu a um amigo: "Com efeito, muitos séculos antes Homero escreveu a sua Batromaquia, Virgilio cantou o mosquito e a amoreira e Ovídio a Nogueira, Polícrates chegou a fazer elogios a Busíris, mais impugnado e incorrigido por Hipócrates Glauco enalteceu a injustiça, o Filosofo Favorino elogiou Tercitex e a febre quartã, Sinésio a calvície e Luciano a mosca parasita." Assim quero falar sobre um personagem de Montes Claros que pode ser também de Caruaru, já que estou fazendo um pacto de irmandade entre as duas Princesas Urbanas. Seu nome é Diploma e passou a pouco a faixa dos 40 natais, de estatura baixa foi contemplado no dia em que Deus estava distribuindo as cabeças, pois a sua é tão grande que seus chapéus que são feitos por encomenda. Infelizmente no interior desta grande armação ficou o vazio do cérebro. É conhecido também como Catenga e Godzila. Diploma foi abandonado pela mãe que fora abandonada pelos pais, quando saiu para estudar em Belo Horizonte e no final dos anos que deveria voltar com um diploma canudo, voltou com um Diploma da cabeça grande. Por conseguir aprender pouco na escola sobrou-lhe honestamente o cargo de carroceiro, pegando entulhos e prestando serviços em um Cemitério. Seu Cavalinho magro com cara de tristonho lembrava o Rocinante de Dom Quixote, mas deixava suas passagens ainda mais burlescas, principalmente quando a generosa cabeça era invadida por altas doses de cachaça. Aí a aparência com o velho louco de Miguel de Cervantes ficava mais próxima, pois munido de uma coragem imensurável e com uma força desproporcional, dizia que acabaria com o mundo na porrada, queria provocar a Terceira Guerra Mundial e mostrar aos nazistas como se mata. Só não lembraram a ele que o III Reich já havia caído e os malditos que sobraram se enforcaram no Tribunal de Nuremberg. Mas um belo dia Diploma foi visto por alguém que pensa o ser como ser, mesmo sem ter, ele enxergava o ser. E como eu disse introduzindo esta matéria surreal, um louco de verdade quis escrever sobre Diploma. Um autor que não queria ser nomeado por nenhuma graça, não queria ser alcunhado por nenhuma referência muito menos associado a alguma sigla. Só é interessante dizer que o sujeito é veterano de manicômios, passou por todos os principais do Brasil, sendo alforriado pela luta antimancomial. E achou inspiração em escrever sobre este poeta das elucubrações. Diploma passou dez dias desaparecido da linha dos olhos dos seus parentes que lhe restaram, fizeram campanhas em busca do paradeiro do moço que já era dado como morto. Quando numa tarde de domingo chuvoso surge de repente ao lado do Biografo louco que não aceita ser nomeado. Estava com uma tela na mão e monte de pinceis numa caixa onde também havia tintas mas lhe faltava uma orelha e a cabeça parecia maior. Ao ser questionado sobre o membro arrancado, disse que de acordo aquele que estava do seu lado ele era a encarnação de Vincent Van Gogh e a partir do momento que perdesse uma orelha como fizera o Pintor Holandês aprenderia pintar. Só que até o momento só conseguira fazer um ó, circulando o fundo de uma garrafa de pinga.