A Bolsa
Esses dias, quando a Deisi deixou sua bolsa à deriva, tive uma vontade imensa de saber o que tanto essas mulheres carregam no acessório. Relutei, olhei para os lados, mas não resisti. Abri a tal da bolsa, e com o que me deparei? Um Kit de sobrevivência para o fim do mundo. Claro que esse foi o nome que eu dei para tanta coisa guardada lá dentro. Era batom, maquiagem para o dia, para a noite, para um casamento, para um ataque zumbi, para tomar café. Também tinha gloss, glitter, glicerina, manteiga, chocolate, uma maçã e duas lanternas (uma carregável e outra com duas pilhas AA).
Havia também uma sombrinha, um guarda-chuva, guarda-sol, um guarda-roupas, meias finas e para inverno. Um termômetro, bolsa d’água, dois patos de borracha, um clips, chicletes e um elástico. Há, esqueci-me da telessena do Dia dos Pais de 98, três notas de 1 real e a chave da casa, do cadeado do portão grande e do médio, além do alarme da residência (as pilhas estavam na lanterna) e o carregador de um Nokia 2280. Tudo isso separado em sacos plásticos com identificação por ordem de relevância, como: “para dias normais, depois da balada, condições precárias e impossível sair de casa”. Só que o mais engraçado de tudo isso é que a coisa que ela mais utiliza não fica na tal da bolsa, mas sim em seu bolso: o celular.
Esses dias ela não sabia onde tinha colocado o carregador. Não fiz objeções e nem contei onde ele estava. Ficou lá surtando que não encontra nada do que precisa. Abriu gavetas, cômodas e guarda-roupa. O engraçado não está nela procurando em outros lugares, está no fato de ainda não pensar que seu mundo está dentro da bolsa, e ela insiste em pensar que ainda tem coisas fora dela.