O Grande Engano
Na segunda feira, logo cedo, na repartição, dona Jaci, coordenadora do setor chegou e ao assentar-se para ligar o seu computador. O seu telefone, que ficava ao lado, no criado mudo da sala soou intermitente.
Jaci o sossegou atendendo. Do outro lado da linha, Cristina, uma das funcionárias justificava a sua ausência no trabalho naquele dia, em função do mau estado de saúde de sua mãe.
- Chefinha, sou eu, Cristina!
- Jaci: diga querida!...
Cristina: não vou poder ir hoje trabalhar...
Numa pausa prolongada a moça começou a chorar. Benemeritamente Jaci tentava acalmar a moça.
- Jaci: minha filha se acalme e me diga o que aconteceu, para que eu possa melhor ajuda-la.
E num tom fúnebre a moça respondeu: a minha mãe...
E começou a chorar. Entre um soluço fraco e forte falou em seguida: se foi.
Novamente soluço.
Jaci muito preocupada intercalou: Calma querida. Se sua mãe se foi, a vida é assim. Mas estamos aqui para ajudar. Não se preocupe quanto o dia de hoje e os demais dias é lei.
Jaci querendo ajudar e Cristina atordoada, ambas confirmaram as tendências das expectativas. Tanto que a moça chorando emocionou Jaci, que preferiu desligar o telefone. Pensando entender o recado e o sofrimento alheio.
Naturalmente interrogada pelas pessoas, sobre a funcionária. Jaci repassava o sofrimento e a dor da perda de uma mãe. Todos, nas salas, nos corredores, no banheiro, embaixo do jambeiro ou lado a lado trabalhando o assunto comentado era a morte da mãe de Cristina. Compadecidos na instituição resolveram se juntar e ofertar coroas de flores, com os dizeres de “saudade do ente querido”, “vá em paz”... entre outros dois dizeres.
Por si Jaci, como era mais próxima de Cristina foi a uma floricultura e comprou três buquês de flores. Falou com um padre para confortar a família, já encaminhando a missa de sétimo dia.
Cristina no ônibus voltando do Hospital recebendo ligações prá lá de confusas. Até entendeu o que sua amiga Vanusa dizia.
Vanuza: minha amiga Cristina, meus pêsames. Sei que essa é uma hora bastante difícil...
Antes de concluir o que tinha para dizer. Após a ficha ter caído, Cristina falou naquela calmaria nervosa: Mana, acho que você está equivocada. A minha mãe está hospitalizada, mas não morreu. Inclusive ela teve uma boa melhora.
Depois que ela externou tal fato. Vanuza pediu desculpas e identificou a origem: Minha amiga, acho que a Jaci não entendeu, pois ela mobilizou toda corporação acerca do falecimento de sua mãe.
Meu Deus! disse Cristina. Após pensar um pouco ela reconheceu que na hora que falou coma chefe estava tão desesperada, que nem pensou e acabou transferindo para a chefe um entendimento errado.
Mesmo assim o hospital, já estava cheio de pessoas da repartição, de flores e de coroas de saudações. O padre tentava junto a direção conseguir a capela para falar com os familiares e organizar os amigos.
A pobre da Jaci já estava falando com uma funerária e negociando o preço do ônibus para levar as pessoas para o sepultamento, quando o seu telefone tocou, informando o grande engano.