NEM EU NEM VOCÊ
Já foi pior, mas ainda hoje uma das minhas neuroses diz respeito a horário. Acaso marco um compromisso qualquer, compreendo que tenho de chegar antes do horário marcado para iniciar. Por exemplo: se uma reunião está marcada para as 14h, então tenho que estar no local, no mínimo, no mínimo, às 13h55m. E isso, pelo menos na porta do lugar onde será realizada, porque, 14h é a hora da reunião começar e não a hora de chegar. Óbvio que preciso chegar antes. Parece simples, mas na prática é uma das coisas mais complicadas de todo o universo. Tem gente que acha que, nesse caso, 14h seria a hora de sair de casa. Tenho a impressão de que a cabeça dessas pessoas funciona assim: lembram-se do compromisso, tem um horário de referência (14h) e a partir dessa referência, vão se dedicar ao compromisso, começando pelo banho, vestir-se, locomoção, etc., etc., perdem totalmente a noção do sentido de marcar hora para dar início ao evento.
Falando nisso, lembro que tempos atrás fui visitar um cliente, não lembro bem a hora e o qual era o assunto, mas lembro de que cheguei com quase uma hora de antecedência. Estacionei o carro e fiquei dando um tempo para não parecer ansioso e atrapalhar o negócio. Cansei e fui dar uma volta no quarteirão. Entrei numa loja de carros. Vazia de gente, cheia de mercadoria. Fiquei olhando e curtindo os carros que jamais teria dinheiro para comprar. Nisso em sujeito mal-educado, mal-humorado, mal-encarado, gritou de longe “O que você quer ai?” Certamente não gostou de um negro olhando um carro de luxo na sua loja. Olhei bem para a cara do infeliz, notei que sua tentativa de embutir os chifres foi debalde. Procurei manter a calma, olhei na cara do energúmeno com raiva e respondi:
- Quero comprar esse carro, quanto custa?
O sujeito queria briga, chegou mais perto, escaneou-me dos pés a cabeça e com olhar desafiador respondeu:
- Quinze mil reais.
Esse valor é hipotético, pois não sei mais qual era a moeda que vigorava naquela época, mas para ter uma ideia do que significava o valor do carro corresponderia hoje a mais de cem mil reais. Ele falou quinze para me provocar, certo que eu estava blefando. Queria ver a minha reação. Não deixei por menos e dei o troco:
- Dou cinco.
Como ele também estava blefando respondi a afronta na mesma altura, mas quando pensei que ele ia desistir da briga de blefes e ser mais concreto, respondeu na lata:
- Então me dá os cinco.
Olhei para o safado e respondi cheio de moral:
- Dou não!
E fui embora.
Estava na hora de visitar o cliente, e como falei, sou pontual.