A VIOLÊNCIA PAULISTANA E O SORRISO DA MONA LISA

Ligo a TV e vou me enchendo de medo, muito medo. Acabo mudando de canal para saber mais detalhes sobre o ocorrido. Mais informação, mais desgraça, mais medo. Violência e morte na cidade. Quando estou quase a me borrar de tanto medo, lembro-me de que preciso sair. Antes, preciso de um banho, trocar de meias e cuecas. Não quero morrer sujo nem com uma meia furada. Borrifo um pouco de perfume de lavanda por respeito ao legista de plantão que fará minha autopsia e me despeço. Meu último adeus. Dou um longo abraço no cachorro, suspiro fundo e abro minha prisão temporária. Trancas, portas, portões, câmeras, cercas elétricas e cadeados. Deixo tudo para trás. Saio da prisão residencia para a liberdade da guerrilha. Mergulho nas trevas e arrisco morrer de uma vez por todas. Estou exausto de tantas ameaças, perigos e sobressaltos. Cansei de me proteger o tempo todo, me poupar, me preocupar. Cansei de ser um prisioneiro do medo. Caminho solitário pelas ruas e vou ser morto. Espero que o meu atirador não seja nenhum principiante. De preferencia, um tiro certeiro no meio da testa. Ouço um ronco de motor e eis que surgem dois sinistros numa moto. Eles vem chegando, chegando, chegando. Param e olham para mim. É agora!! Escolho morrer com um doce sorriso de Mona Lisa nos lábios só para confundir aqueles meus "parentes serpentes" e falsos amigos que desejaram me ver viver no inferno. Fecho meus olhos e ...(Walter Sasso)(Autor do livro "Dobra Púrpura" - Amazon)