Quando o Azar Deita e Rola
— Alô? Cida?
— Josélia! Quanto tempo! Como é que vão as coisas?
— Mais ou menos, amiga...
— Diz aí, quê que foi?
— A coisa tá ruim, nem te conto...
— Fala, vai...
— Ôu! Que fase! O Roney matando aula... A Adrielly na fossa por causa do Stênio Júnior, mamãe com a perna fraturada.
— Não!
— Sim! Ôu que onda! Papai caiu no golpe do cartão, 500 paus de graça pro ladrão!
— Quê isso!
— Tô te falando, uai... O Roberto vai perder a boca lá no “Esquinão do Lanche”. Vão fechar...
— Ai, Josélia! Só notícia ruim, uai!
— Procê vê... Tô ligando pra desabafar.
— Fez bem, Calma! Não adianta esquentar... Josélia? Jô? Cê tá chorando?
— ...
— Jô? Tá me ouvindo? Calma amiga...
— É que... É que... Eu fico deprimida, sabe...
— Vai passar... E eu tô aqui pra te ajudar...
— Brigada, viu, Cidinha? Sabia que podia contar...
— Podia, não! Pode! Deve!
— Brigada, brigada mesmo!
— Fala aí, Jô... Quê que posso fazer?
— É tanta coisa, Cidoca... Mas pr’agorinha mesmo tava precisando é de uma grana...
— Quanto?
— Quatro...
— Quatro, não... Perguntei quanto...
— Pois é... Quatro, Cida...
— Quatro? Quatro o quê?
— Quatro mil...
— (!!!!) Só isso, amiga?
— Pois é... Sábado é o “Baile das Dez Mais”. Cê sabe, eu nunca faltei... Tô precisando de um sapato, um vestido, uma bolsa. Meu cabelo tá um lixo...
— ...
— Cidoca? E aí?
— Menina, agora sou eu que nem te conto! Fui no Jokey ontem, perdi tudo num azarão, tem base? A onda tá braba mesmo. Pode rezar! Aproveita e me põe na reza, tá?