Meu mundo caiu
"Que acontece, meu amigo, quando o mundo explode diante de nosso rosto?" M. West
Começo por esta frase do Morris West, repassando esta pergunta para vocês. PORQUE EU SEI O QUE É A DOR DE VER MEU MUNDO EXPLODIR DIANTE DE MIM. DÓI MUITO E DE FORMA INSUPORTÁVEL.
São 23 horas, estou no laptop e meu celular toca. Calejada dessa vida que me dá golpes em cima de golpes, penso: Só pode ser notícia ruim. E era. Meu último parceiro dos folguedos e dores da infância, irmão e primo, é portador de uma novidade que fará meu coração gelar, meus olhos marejarem e meu mundo desabar. Ele está doente, muito doente, gravemente doente e não vê saída. Minha cabeça começa a girar e não mais armazeno o que está sendo falado. Novamente não!!!!! E agora de forma definitiva, pois significa que eu ficarei totalmente sozinha, sem ter com quem partilhar lembranças afins, rememorar momentos alegres e tristes pelos quais passei com os que estiveram comigo desde sempre, os que tinham a mesma história passada de vida.
Deus me fechará definitivamente a porta do passado? E eu, vão me deixar aqui sozinha, enquanto eles se banqueteiam em outra dimensão, juntos? Não acredito, não pode ser. A dor é como um punhal espetado em meu peito. Olho para um passado recente e concluo: tudo novamente. Sim, enfrentar a dor da perda, os dias passados na cama chorando e sem encontrar sentido na vida, os medicamentos para sobreviver. Será que quero sobreviver a mais esse golpe? Alguém me perguntou isso? Porque a resposta é NÃO! Não quero sobreviver, não quero ficar só. Socorro, não me deixem aqui na “solidão das quatro paredes de minha existência”, como me escrevera, ainda por carta, esse mesmo que agora anuncia que também vai embora.
Vocês aí, parem de tentar me manter aqui, nessa terra fria e ruim, sem que eu consinta. Eu não quero ser a sobrevivente, eu quero a parceria dos que caminharam comigo, dos que carregam as mesmas marcas que eu na infância e adolescência. Mundo vil, covarde, sujo, triste, que transforma nossa vida em algo sem sentido. Que destrói sem permissão a história de nossa vida. Mundo que nos corrói como um câncer maldito, destruindo pedaço por pedaço tudo o que somos e construímos. Não, eu não aceito essa sentença. Não aceito essa punição. Não aceito essa diretriz.
Vocês aí, que já se foram, olhem para baixo e vejam se não se esqueceram de alguém. Eu ainda estou aqui e não quero estar, não sem vocês, não sem a verdadeira parceria dos que me acompanharam passo a passo nessa vida dolorosa. Somos peregrinos na estrada da dor. Mas não quero peregrinar sozinha, sem o apoio e ombro amigo dos que realmente contaram em minha vida inteira. Que choraram ao meu lado nas minhas horas de dor, que riram comigo diante das coisas engraçadas que nos aconteceram, que ficaram apreensivos como eu nas horas de extrema tensão. A minha família NÃO! Eu não quero sobreviver a ela!
Vocês sabem o que é ter um louco na família e o quanto isso dói? Porque nós sabemos. Vocês têm noção do que é ter um caso grave de alcoolismo e ter que entrar em ambientes soturnos para retirar o parente bêbado? Nós sabemos. Vocês imaginam como dói ver um primo acidentado, entre a vida e a morte, em uma UTI? Nós sabemos. E agora, irmão, quem saberá junto comigo?
NÃO!!!!!! Eu não quero saber sozinha. Eu não quero me recordar sozinha? Eu não quero sofrer sozinha?
Mas é assim que poderá ser: eu, sozinha, triste, descompensada, com medo, tentando fugir da realidade, revoltada com a vida; rezando dia e noite para que seja logo a próxima, para que não me esqueçam aqui.
Ei, vocês que nos anteciparam nessa grande mudança, vocês que se esqueceram de mim, olhem para cá. Eu estou aqui ...
e vocês ....
se esqueceram ...
de algo ...
muito importante ....
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EU!
Campos dos Goytacazes, 11 de novembro de 2012 – 16:03 horas.