Uma mulher na presidência do Brasil.

“Se o Lula pode, uma mulher também pode”.

A frase colocada, de passagem no corpo de uma crônica provocou o protesto de algumas mulheres e obrigou o cronista a fazer um adendo.

Para aquelas mulheres, longe de ser um elogio, a frase parecia significar, “Se o Lula –(que é tão ruim)– pode ser presidente do Brasil, uma mulher –(pior ou igual ao Lula)– também poderia ser presidente do Brasil. A parte entre parênteses, obviamente, não foi escrita, mas já existia na cabeça daquelas pessoas, e correspondia ao que elas pensam de Lula e do seu governo.

No entanto, muitas outras pessoas podem ter um conceito diferente sobre o mesmo tema. Isso mostra como é difícil escrever sem dar margens à mal entendidos, se é que isso é possível.

O fato é que Lula, com toda a carga de conflito que traz, conseguirá dividir a política brasileira em duas fases: antes e após Lula. O antes já conhecíamos e o durante estamos conhecendo. O depois podemos, no máximo fantasiar e desejar que não seja igual ao antes.

No decorrer do tempo, após uma fase de lua-de-mel, o governo viu-se permanentemente ameaçado por denúncias que mostravam a fragilidade da aliança política que fora construída e que dera a vitória nas urnas à Lula. Nos últimos dois anos de seu primeiro mandato, o governo ficou paralisado por um congresso que se recusava a debater os temas relevantes. Estava em jogo o próprio governo e as denúncias espocavam de todos os lados. No entanto, a economia ia bem. O mercado de capitais em momento algum entrou em pânico. Não houve crise financeira. A crise era, apenas, política. O que estava sendo mostrado ao público era a forma de se fazer política no país, todos os meandros do levantamento de recursos ilegais e a ação de lobbies. É óbvio que isso iria explodir no governo Lula. Mas seria suficiente para impedir a reeleição?

A oposição, por falta de projeto político apostou todas as suas fichas no tema “corrupção”. É sabido que não foi o PT que inventou a corrupção, mas a ele isso era vedado, uma vez que durante anos, ele era a grande pedra no sapato dos corruptos, ainda que em certas prefeituras sob seu domínio, já se utilizassem as práticas escusas de levantamentos de fundos de campanha. Tudo apareceu com clareza para a sociedade. E agora, há que haver reformas que impeçam esse jogo sujo.

As estatísticas do governo Lula, em seu primeiro mandato, já plenamente divulgadas, mostram avanços em vários setores. Mas, longe se está do nível mínimo satisfatório, para a sociedade. As cidades explodem em violência, uma carga intolerável que se carrega com dificuldade, e se a responsabilidade não é do governo federal, visto que polícia é com o governo estadual, as medidas tomadas são tímidas. Há um programa de combate à lavagem de dinheiro coordenada pelo Ministério da Justiça, que pode ser conhecido no site, pela Internet funcionando há alguns anos. Qual o seu resultado em termos concretos?

E com relação ao segundo mandato, estamos assistindo a uma costura política que viabilize o governo. Tudo bem, a democracia é difícil mesmo, tem que haver acordos, discussões, realinhamentos, comissões, investigações, CPI, coisas demoradas para quem tem pressa. No entanto, verifica-se que, passada a eleição ninguém mais fala em escândalos, em mensaleiros, em sanguessugas, o que leva a crer que o alarde em torno dos temas era mesmo peça da campanha eleitoral. E a oposição, PSDB e PFL estão completamente perdidos, sem projetos político, incapazes de apresentar alternativas viáveis ao país. Não há, e espera-se que nunca venha a haver, a extrema direita com idéias autoritárias. O que leva à preocupação inicial: como será o Brasil da era pós-Lula?

Se o Lula pode, uma mulher também pode. Se a eleição de Lula foi capaz de vencer o preconceito, uma mulher, no futuro poderá vencer todos os preconceitos e se eleger.

Quem será a mulher dos sonhos?