Diário de Sonhos - #011: O Pai / A Verdade Sobre A Mãe

Outro dia aconteceu uma coisa. Tenho um amigo chamado Weiller que sonha em ser rapper. Combinamos de eu entrar com a parte instrumental e ele as letras. Somos muito fãs de videogames também. Ele tem vários, do Super Nintendo ao XBOX 360º. Como eu não tenho videogame ele às vezes me empresta os dele. Já fiquei com o Nintendo Wii e agora ele me emprestou o PlayStation 2. Tenho muita vontade de comprar esse videogame, porque tenho muitos games de horror muito bons guardados aqui e nunca pude jogá-los (até tinha um PlayStation 2 aqui, mas meu irmão pegou pra ele e não deixa eu usar). Estava me divertindo muito e então o Weiller me ligou. "Então cara, sabe esse Play2 aí? É seu". Como assim é meu? "Eu to te dando ele de presente. É seu agora". Eu não acreditei no que ouvi. Ele repetiu várias vezes "é seu", mas eu não acreditava. Eu nunca na minha vida ganhei um presente de alguém que não fosse minha mãe, e do nada me vem um cara me dando um videogame de trezentos reais, mais um HD, vários jogos... Eu disse que não podia aceitar, mas ele insistiu e desligou na minha cara. Eu devia ficar alegre, mas fiquei triste. Eu nunca ganhei um presente, como uma pessoa que eu conheço há pouco tempo me aparece me dando trezentos reais assim? Longe de duvidar dele, considero ele pra caramba, não acredito que ele esteja querendo se aproveitar de mim de alguma forma. Mas me dar um videogame assim do nada? Desde esse dia não jogo mais ele, não consigo nem olhar pro videogame e estou tentando descobrir um jeito de devolvê-lo sem que ele se sinta ofendido.

Essa semana tive muitos sonhos, não lembro de nenhum, mas sei que todos foram ruins, porque acordei me sentindo mal no meio da noite. Não lembro exatamente o que sonhei, mas posso listar algumas palavras que com certeza eu senti: tristeza, dor, soco, risos, azul, pai, mãe, irmão, beijo, abraço, osso quebrado, sangue, gilete, multidão, dia, noite, claro, escuro.

No meio da semana eu com certeza sonhei com meu pai. Já tive outros sonhos com ele, um sobre o qual inclusive eu escrevi. Eu sonhei com meu pai, sonhei que estávamos brigando. Acordei e meio inconsciente dei dois socos no armário ao lado da minha cama. Soquei o armário com tanta força que gemi de dor e fiquei com a mão ruim o dia todo.

Vou aproveitar e narrar um outro sonho que tive com meu pai uns meses atrás, na época eu que meus sonhos sumiram e apareciam só de vez em quando. Não vou ser muito exato porque comecei a esquecê-lo:

Eu sonhei...

Sonhei que estava na biblioteca da minha faculdade (aliás, eu costumo sonhar muito com minha faculdade. O que será?). Tinha uma exposição sobre a Antártida e eu achei um livro grande cheio de fotos do gelo e da neve. Queria retirar, mas o atendente disse que era tarja vemelha e não podia sair. Eu olhei e não vi tarja nenhuma, mas ele insistiu. Eu então pedi pra ele procurar no sistema se tinha um outro exemplar que podia sair, mas ele ficou nervoso e ligou pra polícia. Eu saí correndo. Pra minha surpresa a porta da biblioteca dava pra um shopping center. Policiais apareceram e me perseguiram. Fugi abrindo caminho entre as pessoas e consegui sair. Na rua tudo parecia ambientado como num bairro mexicano em algum gueto miserável dos Estados Unidos. O trânsito era um caos, carros velhos. As pessoas falavam em espanhol, anúncios e lojas, tudo em espanhol. Muitas dessas frases eu lembrei depois de ter acordado do sonho, mas a memória é pouco confiável, então me esqueci...

Entrei num barbeiro e meu pai estava sentado cortando o cabelo. Quando ele me viu, senti o ódio em seu olhar. Ele pegou a tesoura da mão do barbeiro e correu atrás de mim, ainda de avental. Eu corri, gritei por ajuda mas não saía som nenhum, fazia força e nada. Ele me perseguia e gritava "moleque filho da puta, vem cá, vem cá seu filho da puta!". Eu corria mas minhas pernas fraquejavam de medo e eu caía, levantava com dificuldade, chorava de medo e ele estava cada vez mais perto.

Aí eu acordei...

Uma coisa que eu acabei de lembrar: nessa nova "remessa" de sonhos que estou tendo, os sonhos ruins, quase sempre estou sendo perseguido. Não lembro por quem ou pelo quê, mas lembro de estar fugindo e gritando por socorro, mas minha voz não sai.

PS: Nomeei esse texto como "O Pai" em referência aos sonhos d'A Mãe que eu tive há varios meses atrás, quando eu me drogava com quietapina. Depois de muito tempo, finalmente enxerguei uma fresta nessa caverna de dúvidas e descobri do que se trata.

Quando eu era mais novo, meu pai bebia muito e minha mãe não tinha dinheiro pra pagar babá. Passei a maior parte da minha infância sozinho, mas lembrei de uma época que minha mãe me deixava com uma amiga dela. Essa mulher era adepta à umbanda ou candomblé, e fui criado num ambiente cristão, então aqueles rituais e santos eram muito assustadores pra mim.

Quando eu fazia alguma maucriação ela me batia com uma espada de São Jorge (um planta de folha dura que só). O nome dessa mulher era Eliana, mas todo mundo a chamva de "Mãe Preta". Eu chamava ela de "A Mãe", sempre usando o artigo "a" antes do mãe. Não que aqueles sonhos tenham algo a ver com ela, mas acredito que a palavra "A Mãe" e o medo que eu senti quando pronunciei essa palavra foi um medo infantil guardado há anos em mim dessa mulher.

Renan Gonçalves Flores
Enviado por Renan Gonçalves Flores em 10/11/2012
Código do texto: T3978226
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