Augusto dos Anjos à sua espera
 
          Toda sociedade que se preza possui os seus valores. Não só os possui, mas os cultiva como exemplo às atuais e futuras gerações na formação de próximos e semelhantes valores.  E quanto mais são usados como luminares, atenuam momentos trevosos e espaços sombrios da história, revalorizando-se amados filhos da terra. São assim homens, como Augusto dos Anjos que, por circunstâncias e motivos alheios à vontade, obrigou-se a sair de casa para tratar-se e trabalhar noutras paragens. Por lá ao descobriram seu valor, admiraram-no, ao ponto de não permitirem seu retorno à casa paterna, não lhe abrindo  as portas para  voltar ao lar o “filho pródigo”.  E, como na parábola, aqui o receberíamos com uma grande festa, num banquete de sabedoria poética, com Sérgio de Castro e Jomar Souto.
 
          Há os valores que já se foram, mas entre nós se tornam imortais. Como é o caso da expressão maior lusitana após Camões, Fernando Pessoa:  “ Sou o Espírito da treva, / A Noite me traz e leva; / Moro à beira irreal da vida, / Sua onda indefinida  / Refresca-me a alma de espuma... / Pra além do mar há a bruma...”   Ele se foi, mas, em Lisboa, fizeram-no sentar à frente do seu habitual bar, no Rossio, à espera de quem vá se sentar ao seu lado e sentir  que o poeta é um fingidor...  Já em Porto Alegre, Drummond avisa a pedra no caminho ao poeta Mário Quintana sentado num banco da Praça da Alfândega.  Mas, quando volta ao Rio, Drummond não dispensa um conhecido banco nas calçadas de Copacabana.  Assim homenageiam as cidades seus poetas.
 
          E aqui, na Paraíba, onde estaria sentado à sua espera o nosso poeta maior Augusto dos Anjos?   Dias atrás, surgiram rumores, vindos da Presidência da Academia Paraibana de Letras, de que se pretende, no próximo ano, antes do I Encontro Nacional de Poesia , evento de junho, trazer Augusto dos Anjos para ficar sentado nos jardins da APL; também num banco, à sua espera, dos visitantes, dos jovens vocacionando-se à poesia, para relerem com ele o centenário “Eu”, ao sopro da brisa que corre entre as árvores da aprazível Casa Coriolano de Medeiros.  Que isso receba condições para passar da pretensão à realidade. Melhor do que um busto é Augusto dos Anjos, de corpo inteiro, vivinho entre nós, e logo na Academia dele, sentado à sua espera ...