VELHICE PRECOCE

O senhor que corta meu jardim é um homem de mais ou menos cinqüenta anos, ao vê-lo com os olhos vermelhos, achei que tivesse bebido, mas depois constatei que ele estava chorando, indagado sobre o que estava acontecendo, soou o nariz e secou as lagrimas coberto de vergonha, maldizendo aquele “maldito cisco” que tinha caído em seus olhos.

Rapidamente se pôs a rastelar a grama cortada, assobiando uma canção qualquer, mas o vazio de esperança que gritava dentro dos olhos daquele homem não consegui enganar ninguém, vinha da alma, e se atirava para fora ao som daquele assovio, a revelia de seu dono, entristecendo tudo que estava ao seu redor, num pavoroso pedido de socorro.

Descobri mais tarde que esse senhor, tinha deixado a lavoura onde trabalhara onze anos, quando o patrão transformou o sítio que morava em pasto, depois da geada que matou o café; descobri também que havia tentado uma “vendinha”, mas o coração mole, o fiado, a falta de experiência e os muitos planos dos governos, acabaram com tudo.

Tentou durante muito tempo encontrar um trabalho onde pudesse honrar seus compromissos e alimentar sua família mantendo a dignidade de filho de Deus, mas derrotado pelos talões de água e de luz vencidos, passou então, a lutar apenas pela comida e pela água, como os animais.

Esquecido de seus sonhos deixou-se arrastar pela vida, como uma folha seca é levada pela ventania nos finais de tarde de outono, e se não fosse a sexta básica que ganhava da igreja que participava, todo mês, certamente o minguado salário de jardineiro não teria suprido o mínimo de suas necessidades e de sua família.

Na década de cinqüenta e sessenta a população do país era essencialmente rural, a demanda por bens de consumo era pouco propalada pela mídia, que sem a presença da televisão ainda não havia transformado o possuir mais e mais, para ser feliz, em preceito de vida.

As famílias ainda sentavam ao redor da mesa ou na varanda das casas para conversar e os filhos buscavam na experiência dos pais, luz para continuar a caminhada; A mãe pátria não estava atrelada aos ditames dessa economia globalizada e não tinha se tornado ainda tão madrasta, transformando jovens de quarenta anos em anciãos, com o mercado de trabalho batendo-lhes com a porta na cara, sem se quer ouvir a voz da experiência; o pai era o chefe da família, era responsável pela defesa da prole, pagava todas as contas da casa; e como reserva moral distribuía conselhos e advertências e os filhos o ouviam com admiração e respeito, e em sua dignidade de chefe da família, reservava para si sempre a última palavra.

Com a população do país triplicando-se e o mundo globalizado ditando novas regras de conduta, onde o rico ficou bilionário, a classe média quase desaparecendo e o pobre precisando receber do governo sexta básica oficial, conhecida também como bolsa família, para saciar sua fome, a família ficou órfã daquele que indicava o caminho; os filhos têm que ir pra rua engraxar sapatos, catar papel, ou mendigar a caridade, distante da presença protetora da figura paterna, não tem mais modelo a quem se espelhar, é órfãos de pais vivos, pior que isso, é filho de pai sem autoridade.

Urge por tanto que as autoridades desse país tomem consciência da missão que terão de realizar em breve tempo, criando mecanismo que possibilite ao homem viver com dignidade, com acesso à medicina de qualidade, à escola pública de auto nível, à moradia que o dignifique e a um trabalho que além de permitir-lhe gerenciar a própria vida possa realizá-lo como Ser produtivo e não o torne apenas um peso para o Estado e massa de manobra de políticos inescrupulosos.

Se não resgatarmos a família como célula mater da sociedade, onde o homem vive a sua primeira experiência de amor, corremos o risco de deixar para as novas gerações seres vazios e egoístas, incapazes também de amar, que continuarão a clonar a escoria política mensaleira, como modelo a ser seguido.

Quem semeia vento com certeza colherá tempestade, a vida é muito breve ainda que vivamos muitos anos.

Seremos julgados pela história pelo legado que deixarmos às novas gerações procuremos então praticar a justiça, viver o amor amando não somente de palavras, mas com atitudes.

Deus não quer nada daquilo que não tenhamos para dar, mas nos pedirá contas de tudo quanto poderíamos fazer em prol do nosso irmão e não o fizemos.

Como você trata o seu funcionário? Paga-lhe um salário justo? Pense!!!

Gilbertolima

Apucarana – PR.

Gilberto F Lima
Enviado por Gilberto F Lima em 10/11/2012
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