O fim do (meu) mundo

Já tive medo do fim do mundo. Quando era pequena e não só acreditava em tudo o que me diziam, como dava forma, cor, cheiro...Quando a realidade e a fantasia viviam brincando de esconde-esconde na minha mente e eu já não sabia qual era qual.

Depois parei de pensar nisto. Assim como Papai Noel e Coelhinho da Páscoa, o fim do mundo passou a ser uma lenda, só que no gênero suspense/terror.

Contudo, os Maias, Nostradamus e outras figuras surreais (que suspeito serem parentes distantes de Noel e Coelho) deixaram alguns escritos intrigantes. Umas mensagens subliminares cheias de efeitos especiais e catastróficos. Profecias macabras sobre um cataclismo fatal que atingiria o planeta Terra em 2012...dezembro...mais precisamente daqui a quarenta e poucos dias.

É sacanagem, né? Fala sério! Ainda que você não acredite e franza o cenho, jogando a mão pra cima num gesto de “bem capaz”, a dúvida resolve vir brincar junto com a realidade e a fantasia, bem na sua mente. Tipo, mesmo não acreditando mais em Papai Noel, com toda badalação natalina mexendo em seus neurônios, amolecendo suas emoções, enevoando sua visão, você é (quase) capaz de jurar ter visto uma coisa estranha no céu de 25 de dezembro. Que mesmo não podendo afirmar (pois estava muito distante) parecia com a carroça do senhorzinho da esquina, que faz frete, subindo ao céu. Se não fosse pelos cavalos terem chifres e tocarem sininhos...

Que brincadeirinha sem graça estes moços do passado resolveram fazer com o futuro da gente, hein?

É complicado, simplesmente, desacreditar de algo que contam para você como sendo verdade e, o que é pior, está muito bem documentado. Só não registrado e protocolado, porque, naquela época, ainda não haviam descoberto os cartórios.

Durma com uma notícia desta! Pois eu tive um pesadelo, daqueles que você acorda com a certeza de que não existe terror mais terrível do que o do sonho.

O apocalipse me perseguia como um ogro gigante pronto para abocanhar meus calcanhares e depois me degustar inteirinha. E eu subia, subia, pois achava que se ficasse no alto a coisa não me alcançaria, mas o caos foi se formando ao redor de mim e já não havia mais aonde subir. Quando o fim me olhou bem nos olhos e sorriu com o sorriso dos vencedores, eu me desesperei. Não porque iria morrer, mas por estar longe de casa.

Eu que há dias atrás, enquanto “mirabolava” as últimas atividades da minha vida, havia pensado em morrer na Itália, mais precisamente sob o sol da Toscana; em Madri, numa última visita à minha prima; ou em Portugal, para ser enterrada junto com os meus ancestrais. Eu que planejava uma voltinha ao mundo enquanto me durassem os dias. Fiquei desesperada ao me dar conta que morreria longe dos meus.

Que meus? Os meus amores, amigos, companheiros, parceiros literais de caminhada. Os que compuseram o “casting” do meu enredo aqui na Terra.

Não me importei pelo chão se esvair sob os meus pés e me engolir, apavorei por não haver nenhum corpo familiar para eu abraçar. Nenhuma mão íntima para eu agarrar. Nenhuma voz conhecida que pudesse me consolar. Nenhum olhar cúmplice para mirar. A morte me encontraria sozinha zombando da minha idiotice de não ter os meus amados por perto.

Ainda bem que foi só um pesadelo. Daqueles que você faz questão de dizer a si mesmo em voz alta ao despertar, foi só um pesadelo!

E digo mais, se estes profetas engraçadinhos estiverem certos, se o fim do mundo estiver chegando, realmente, agora em dezembro, que se prepare! Pois vai ter de me buscar em casa. E eu não estarei sozinha, vai ter muita gente por lá! Até o Papai Noel.

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 09/11/2012
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