DEUS NÃO DÁ NADA A NINGUÉM.
Por Carlos Sena
Por Carlos Sena
Dizem que “Deus escreve certo por linhas tortas”. Não tenho certeza disto. Nem quero insinuar que Ele não tenha o poder. Acho até que He Man (“eu tenho a força”) se inspirou Nele, por ser tão poderoso. No rol do poder, outro dia li no para brisa traseiro de um carro: “Sou filho de Deus e irmão de Jesus Cristo, pensa que sou fraco”? Melhor ler essa loa do que outras que andam nos carros tipo: “foi Deus quem me deu”! Nesse caso, Deus é fraco e não poderoso, pois, geralmente os carros que andam com essa “pérola” escrita são fuleiros demais. Ora, se é Deus quem está “dando”, por que não dá logo uma MERCEDES ou uma LIMUSINE? O outro lado dessa coisa hipócrita é que essas pessoas, no geral, se sentem melhor do que as outras só porque conseguiram comprar um carro que nem sempre é novo e bom. Ao fazerem isto, esquecem de que estão alimentando a religião com o capital, pois a maioria dos pentecostais associa Deus ao sucesso material, como eles dizem, à prosperidade MATERIAL!
Do alto da minha ignorância religiosa, prefiro aqueles que lutam por uma família unida, por filhos bem educados, por dignidade de vida e de valores. Mas, não. Isso não dá status de felicidade. Quem dá isso é um carro, uma casa bonita, conforto, viagens, passeios, etc. Vê-se, pois, que Deus não tem culpa disto. Ele tá lá no seu lugar que ninguém se atreve a dizer onde e, por isto, inventa o céu que simbolicamente está em cima de nos, e o oposto, que está debaixo do chão, na parte mais quente, certamente o inferno.
Há quem diga que prefere chorar dentro de um carro zero a chorar dentro de um fusca. Eu prefiro não chorar, mas se “eu chorar e o sol molhar o meu sorriso, não se espante, cante, que o teu canto é minha força pra cantar” – ah que saudade de Gonzaguinha. Carro é lata. Então como é que esse povo associa Deus à lata que eles andam em cima delas, jogam dentro da lama, matam gente, usam como metel, digo, motel, etc.? No rol desses ufanismos, tem um que até simpatizo com ele: “guiado por mim, dirigido por Deus”. Menos mal, pois a rigor, nem aí a gente poderia invocar seu nome em vão. Tenho a impressão de que quanto mais por Deus a gente chama, menos ele nos escuta, porque passamos pra Ele a ideia de insegurança diante de sua grandeza expressa pelo universo. Essa exploração de Deus tem surtido efeito e, confesso, até já tive vontade de abrir uma igreja. Mas desisti depois que fui pesquisar um nome sugestivo e encontrei entre outros péssimos o seguinte: “IGREJA DO CUSPE DE CRISTO”. De fato, desisti mesmo porque não sou cara de pau, nem sou eu o dono do óleo de Peroba.
Assim, prefiro a compreensão de Deus escrevendo certo por linhas certas. Nesse viés, fica melhor compreender que estamos nesta vida em missões distintas. Compomos uma multidão de aflitos que, caminhando juntos, nem sempre nos sentimos reunidos com todos. Nosso egoísmo não foi alcançado pela modernidade nem pela ciência e, desta forma, a gente vai fingindo que é moderno e a modernidade vai fingindo que é Deus e Deus mesmo, o verdadeiro, não tá nem aí pra nós. A conversa Dele conosco é depois da eternidade quando a gente bater a caçoleta...