CACHORRO OU URSO?

e souza

Gostava muito de fazer aniversários, mesmo porque queria ter dezoito anos o mais rápido possível, os filmes nos cinemas, naquela época havia limitações de idade, na verdade os censurados para menores de 18 eram sempre os melhores. Quando fiz dezoito queria de qualquer forma voltar para os dez, nem precisava dizer, não deu certo. Sempre quis ganhar um bicho de pelúcia que eu pudesse abraçar quando fosse dormir, já que não tinha um cão de verdade, aliás, tinha sim, mas era muito grande e não dava pra dormir com ele. Nos meus aniversários davam-me outras coisas, eram coisas legais também, mas e o bicho? Um ano pedi ao Papai Noel um autorama e para minha surpresa ganhei uma bateria. Eu sempre desconfiei que o bom velhinho não soubesse ler, e lá fui eu aprender a tocar aquele instrumento. Muito antes do Natal da bateria, já havia pedido o ursinho ou cachorro de pelúcia, mas o tal velhinho viajou e me deu um avião de metal que fazia barulho à beça e era pintado o nome “VARIG” a aeronave de brinquedo era linda, mas eu sabia que com esse nome aí em cima não daria certo. No ano do instrumento eu e meus amigos resolvemos montar uma banda e pusemos o nome de “Adams Fig.”, não me perguntem o por quê do nome, nem o quê significava, mas era muito bom, ensaiávamos na garagem lá de casa. O Paulo guitarrista, Pascoal era pandeirista, O Pércio organista, o Claudio baixista e vocalista, eu baterista e o Perci só ia para torrar nossa paciência, o Pedro, bem, o Pedrinho só tinha dois meses de vida. O Claudio nos inscreveu em um festival interno do colégio, ele ia cantar uma música que seu primo havia escrito. Na noite da apresentação, subimos no palco e o Claudio começou a cantar; “pá pádábádá...” e não saía disso, as pessoas todas na quadra começaram a gritar em coro: ‘VAI FAZER PÁDÁBÁDÁ NO BANHEIRO SEU...!”Disseram também outras coisas sobre nós e a respeito da mãe do meu amigo, tenho vergonha de repeti-las”. Eu nem consegui tocar porque não tinham baquetas, devia ter levado as minhas. Mas para a felicidade dos ouvintes e para nossa integridade física, nós não terminamos aquilo que chamávamos de música e fomos embora do palco. Talvez se fosse hoje podíamos com o ‘pádábádá’ fazer sucesso, mas ainda bem que aquele povo que lá estava entendiam de música. Eu nunca mais me meti a tocar outro instrumento. Que bobagem! Anos mais tarde ganhei um violão e lá fui eu novamente aprender a dedilhar, me apresentava em um bar, hoje já não existe mais, o nome era “Alex bar”. Uma noite estava indo tudo muito bem até que rolou uma tremenda confusão com duas moças, não foi por minha causa não, ou foi? Acontece que fomos todos parar na delegacia, eu fui porque levei o dono do bar em meu carro. Na delegacia o Alex estava dando depoimento e eu sentado do lado de fora da sala e ouvi o delegado dizer: O senhor sabe por que acontecem essas brigas? E ele mesmo respondeu: É só o senhor pagar um cantor melhor que essas porcarias vão se afastar do seu bar para irem a lugares mais baratos. Daí eu desisti né? Gostei mesmo foi em outro ano, ganhei um mini bug na cor verde, andava com ele por todo o bairro até quase me matar, daí meu pai resolveu vender meu brinquedinho. Nos anos seguintes passei a ganhar roupas, foi a maneira que minha mãe encontrou para preservar a minha integridade física e mental. Jamais deixei de querer um bicho de pelúcia, mas sem dúvida as roupas eram mais seguras. Comprei uma rifa que a prima da minha mãe estava vendendo, o prêmio era um coelho de pelúcia. Como era mesmo o nome que assinei? O interessante é que foi a primeira vez que ganhei um prêmio. Em fim eu ia poder dormir com o coelhinho de pelúcia. Lembrei, o nome era Claudia. A maioria dos meus amigos tinham bichos de pelúcia e dormiam com eles. Dias depois a tal prima trouxe o prêmio e me apresentou ao coelho, foi aí que eu descobri que o tal bicho tinha o dobro do meu tamanho e seria humanamente impossível dormir com aquele monstro, era eu ou ele na cama, então o deixei no quarto das minhas irmãs, acho que combinava mais, o bicho era todo rosa e peito branco e em uma das patas ele segurava uma..., bem, penso que aquilo que ele segurava era uma cenoura que eu também não sei dizer a cor daquele legume. Muito antes de ganhar o violão eu entrei para a fanfarra do colégio, fui tocar surdo, depois fui para a banda e comecei a tocar atabaque, tempos depois fui para o sopro, tocava trombone de pistos, fiquei alguns anos nesse instrumento, mas nem precisava dizer que não era meu forte, mas ouvir os colegas era muito bom. Anos depois ganhei uma festa surpresa e finalmente ganhei um cachorrinho de pelúcia, era azul e branco e olhos azuis, tem o tamanho ideal é bem pequeno e muito peludo, coloquei o nome de ‘Mecs’, mas eu ainda acho que ele é um ursinho humanizado ou é cachorro?

Não tem problemas, eu também amo ursos.

edsontomazdesouza@gmail.com

E Souza
Enviado por E Souza em 08/11/2012
Reeditado em 28/01/2015
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