Uma Casa pra Sonhar

Projeto de casa feita em alvenaria de tijolo. Os tijolos artesanais feitos numa olaria de frente para a floresta.

Tem um jardim e nele um lago pra dessedentar os muitos pássaros que virão se alimentar no pomar. Um, caminho de seixo rolado leva até a entrada da casa. Ladeia esse caminho uma profusão imensa de flores que nos faz pensar na palidez do arco-íris.

A casa é terrea, excentuando-se a cozinha que se assenta sobre um porão em pedras brutas. Pequenas aberturas recortam esse trecho. Esse porão de piso em terra batida, usado pela família como ateliê, retém um cheiro gostoso de terra fria e os cheiros da horta plantada ao lado.

As portas serão largas e altas pra deixar o sol entrar e permitir o passeio do vento entre os cômodos. Cada uma delas feitas em largas tábuas, tem um recorte em forma de coração no encontro das duas folhas, formando um visor. Pintadas em azul hortensia.

As janelas terão floreiras plantadas com toda a especie de florinhas coloridas. Serão amplas e baixas o suficiente pra permitir que alguém se sente no seu peitoril pra apreciar essas flores. Abrirão pra fora e pintadas em azul hortensia com largas molduras de azul real, constrastam com o vermelho dos tijolos.

No interior, as paredes rebocadas serão brancas pra permitir que o sol, no seu passeio, desenhe nelas livremente com seus tons de dourado.

O piso será ricamente decorado com ladrilhos hidraulicos que formarão desenhos tão belos que tornarão um desperdício colocar móveis lá. Tapetes jamais.

Não haverá portas separando nada dentro dessa casa, exceto nos banheiros. Haverá longas cortinas de tecido claro e transparente, que farão volteios ao sabor de cada brisa que passa.

O telhado em telhas artesanais antigas e recém lavadas expõe um madeirame artístico em peças lavradas a mão com as marcas da enxó usadas ali. O tempo se encarregou de encerar essa madeira. As tesouras robustas desenham um traçado artístico no ar, tornando seu papel estrutural um mero detalhe para os olhos que a admiram.

Na sala não há necessidade de quadros. Amplos sofás de couro abraçam quem senta e largas cadeiras de tecido convidam a sentar. A mesa baixa e rustica pode servir de banco, e enfileira revistas junto a um prato que expõe lindas pedras coloridas.

Os banheiros serão um capítulo especial de tal monta que o resto da casa pareceria prescindível.

Se abrirão para terraços privados, e maciços verdes invadirão descaradamente esse espaço, permitindo que o usuario se banhe colhendo na hora um ramos fresco de alecrim ou um talo de lavanda apanhado ali mesmo, enquanto descobre um novo encanto no formato de certas pétalas, ao se ensaboar. Os banhos ali serão novas formas de prazer e se transmudarão em lazer, redefinindo o ato de banhar como festa dos sentidos, e não simplesmente um ato de higiene.

Olhos presenteados pela beleza das cores e nariz alcançado pelos odores das especiarias.

A cozinha não é um espaço da casa. Ela é a casa. A casa se formou em torno dela.

Grande, clara, abrindo suas janelas para três direções distintas, comporta uma grande mesa de madeira, encerada pelo tempo e pelas muitas mãos que ali prepararam massas, cortaram legumes ou simplesmente abriram um livro de receitas.

Seu piso em tábuas corridas largas, desiguais alisadas pelo tempo e pelos muitos pés que ali passaram, convida a caminar descalço.

As cadeiras confortaveis de assentos de cordas, acolherão as pessoas, não lhes dando pressa em levantar. À essa mesa pode-se sentar e deixar os olhos se perderem na paisagem, enquanto o resto espera.

As paredes têm prateleiras onde estão expostas as louças. Não Limoges ou similares, mas a sopeira predileta da bisavó, um prato de bolo extraviado do seu conjunto e herança de uma tia-avó, aquele bule esmaltado de azul com flores vermelhas - abandonado pela mãe, um açucareiro de estanho comprado em feira de antiguidade na rua, várias xícaras de pocelana ricamente decoradas – destraviadas de seus aparelho e uma terrina linda, parecendo floreira, ganha da mãe.

O fogão em esmalte branco com puxadores de cerâmica é um dos motivo pra se querer ficar naquela cozinha. Sua chaminé articulada em anéis em bronze, derrama no ar um cheiro gostoso de bolo assando.

Ao lado, uma armação retangular em ferro trabalhado pende do teto por correntes e expõe panelas de esmalte florido, caçarolas e frigideiras de bronze.

A pia, usando toda a largura de uma grande janela e do lado de fora da mesma se abre para um pomar. Na borda externa dela uma fileira de vasinhos coloridos expõe cheirosas e belas especiarias usadas no dia -a-dia da cozinha. Lavar a louça é ali um prazer com água escorrendo daquela torneira tipo bica antiga.

Os quartos têm portas-janelas, abrindo para o jardim. Ali se sonha acordado e dormir é uma delicia que se recusa, temendo perder tempo.