Não pise na grama
Gosto do jeito que ele sorri quando olha pra mim. Apertando os olhos e fazendo covinhas no rosto.
Gosto de ver ele pronunciar o meu nome. Ele me chama de Sá. Só minha família e meus amigos íntimos me chamam de Sá. Já fomos mais íntimos do que amigos e agora somos apenas amigos nada íntimos. Mas ele fica perfeito quando fala: Sá. O jeito como sua boca se mexe e o som macio da sua voz é como aquelas músicas bonitas que fazem a gente chorar porque tocam em algum lugar aqui dentro que dói. Mas é uma dor gostosa de sentir. Além do mais, eu sempre confiei nas pessoas que me chamam de Sá, elas me passam segurança, como se eu tivesse certeza de que poderia contar com elas a qualquer momento.
Eu começo a sorrir e falar alto sem parar, porque se fico calada é bem capaz dele escutar o meu coração com suas batidas desafinadas, descoordenadas, feito uma criança tocando bateria pela primeira vez. Um desastre total.
Adoro o jeito que ele tem de falar da forma mais educada que existe que ele discorda de mim e que eu estou errada. Bem, na verdade isso eu odeio. Eu odeio porque o jeito gentil e carinhoso dele discordar de um pensamento meu, me desarma e faz com que eu me sinta meio idiota. Completamente idiota, é verdade.
E o fato de ele ser inteligente, gentil, bonito, sexy, sensual e pronunciar o meu nome de modo perfeito, são apenas detalhes.
O que me deixa com aquela dorzinha aqui dentro é o fato dele estar “ocupado”. É um estacionamento proibido. É como aquelas placas: NÃO PISE NA GRAMA. E vocÊ olha para o gramado verdinho, macio e sente uma vontade incontrolável de tirar os sapatos e correr descalço, deitar e rolar na grama, sentir o orvalho, olhar o céu e sorrir de felicidade por estar viva.
Mas.. É proibido. E por ser proibido é incrivelmente mais desejado. E o que o desejo tem de perigoso é o fato de que, enquanto não for saciado, continua ali queimando, incomodando.
Mas claro. Isso são apenas divagações de uma “mente impura”. Ele é meu amigo e quero que nossa amizade perdure por todo sempre amém. Mesmo que o desejo continue queimando e a dor continue escondida onde deve estar.
Para encerrar, lembrei de um pensamento que li em um livro, é meio forte, mas totalmente verdadeiro: “ Um dia todos nós estaremos mortos e nada disso terá a mínima importância”.